quarta-feira, 20 de abril de 2011

Notícia

A verdade é que, como muitas outras coisas em minha vida, não sei dar uma notícia, senão apenas pego-a pelo meio. Há algo a ser contado, definitivamente, isso eu o sei, contudo não contá-lo já em seu princípio até aquilo que deve ser escrito, ou melhor, fazer um devido começo com toda a sua esmerada assertividade, preparando tudo para que a história aconteça e nos leve atravessando do ao seu meio e fim, cumprindo enfim sua missão; isso eu não sei. Não é muito diferente quando se dá um aviso. Não sou daqueles que dizem que tem uma noticia ruim, pedem para sentar, enrada inicialmente o faticídio, para então, jogar de maneira suave aquilo que desde o começo se esperava. Sou daqueles que dizem dando uma lapada, colocam sem cuspe, e fazem os outros caírem por não estarem sentados. Mas me compreendam, não por maldade ou nada disso, apenas porque não sei por onde começar. Definitivamente há algo a ser contado, mas não saberia dizer-lhes qualquer coisa a mais senão aquilo que há de ser dito. Sei que de fato, como se diz as palavra, a ordem em que se diz essas palavras, mudam aquilo que se diz. Por isso, acredito eu, quero menos responsabilidade possível naquilo que se diz, senão colocá-las da maneira mais direta que posso, a modo de me livrar delas. Uma notícia ruim como a que tenho para dar-lhes, não merece qualquer introdução vigorosa, rodeada, floreada, pois afinal nada há de bom nela. Pedir para sentar-lhe é diminuir justamente o choque que ela poderá causar e isso tampouco é o que desejo. Não quero que se sintam bem com uma noticia ruim, quero que sintam-se mau, preoucpem-se pois é importante que haja pena, que haja sofrimento, pois só assim, compreeder-se-a tal notícia em sua importância. O que quero dizer é que os floreis, os pendurecalhos, os arrodeios, facilitam uma coisa que não é para ser facilitada. São apra os cardíacos e mulheres grávidas. Se estás enquadrado em algum desses, pergunto, estás sentado?

domingo, 17 de abril de 2011

Pé-de-aço

Um grande robô, meu brinquedo de natal. Nada aconteceu, pedidos feitos em vão. Apenas pedaços: "Só tinha esse resto na loja.", disseram. Uma perna de plástico, do tamanho de uma perna de criança de 5 anos, com um pé de aço que calçava 45. Isso é lixo, disse mamãe, Isso é tudo, disse papai, Isso é um pé-de-aço, disse eu.

Meio criança, meio adulto; meio humano, meio robô; meio amigo, meio inimigo; um pé inteiro, um robô pela metade. Era o meu brinquedo: Esse é o meu pé-de-aço!, exclamei. Pisada forte, firme, bico bom, peso de papel, para muitas coisas meu pé de aço seriam boas - completava em mim.

Vou jogar fora, disse mamãe. É melhor mesmo, disse papai. Escutando de longe a conversa que acontecia na sala, "Chuto quem tentar", pensei eu. Estava armado o conflito, meu pé protegido no quarto, enquanto mamãe na sala, termiando de arrumar, para ir logo lá, e papai assistindo tv, mas sempre alerta: ao menor sinal de conflito surgiria como reforço - do lado inimigo - Temos que sair daqui! Logo! Peguei meu pé-de-aço, corri. No quintal, havia de protegê-lo. Observei a movimentação da casa pelas janelas, via mamãe buscando entre os cômodos a mim e ao meu pé-de-aço. Ouço o meu nome e logo em seguida, cadê você?, em tom ameaçador.

É preciso preparar uma estratégia de defesa, pois mamãe há de chegar, invadindo o quintal com seus reforços. Ela fala alto para papai que está na sala: "Ele está lá fora, vai pegar aquele lixo dele". Olho para o meu companheiro o pé-de-aço. Escondo-me nos entulhos, antes que cheguem. Misturamo-nos entre pedaços de outras coisas em um quartinho nos fundos do quintal: madeiras velhas e estragadas, pedras de cimento, pregos e ferros enferrujados, bichos e besouros.

Está escuro, a noite chegava, e o inimigo não dá mais sinal. Despistamos, pensei. Não há luz no quartinho do quintal, em meio aos entulhos. Meu pé de aço brilha entre o lixo, ali, sem dúvida ele é o rei. Os bichos fazem seus barulhos, e logo as baratas tentam ganhar território. Nunca estaremos livres. Meu pé de aço pisoteia-as. Parece que sempre esteve preparado para isso. Luto insistentemente, quando um inseto entra por baixo da camisa. Tiro-a, e logo meu pé-de-aço, companheiro de batalha, salva minha vida, jogando-se em cima dela, em uma pisada forte!

Se fosse vivo certamente seria um nobre. Falaria com honradez. Me agradeceria por protegê-lo. Me convidaria para o seu castelo, faríamos uma festa. Lembraríamos das aventuras que tivemos. Agradeceria-me por servi-lo tão nobremente. Agradeceria-me por levá-lo ao seu reino. Dormiríamos. Acordaria no dia seguinte, com o espírito preenchido e preparado para novas batalhas. Me diria que não poderia ir, que tinha um reino para governar. Me diria que poderia visitá-lo. Nos despediríamos em uma solenidade, mas como velhos amigos.

Entro em casa, meu pé-de-aço fica em seu reino de entulhos, com uma batalha constante a ser vencida contra os inimigos artrópodes. Papai pergunta onde estive e digo que ele não entenderia. De fato, não entenderia. Mamãe pergunta pelo meu pé-de-aço, e falo que ele está onde tem que está. Lembro-me do meu amigo saudosamente, com respeito e admiração. Em seguida, mandam-me tomar um banho. Preparo-me para uma nova aventura.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O Diário do viajante perdido: um encontro com o povo Irere-oe*

*Reportagem extraída da revista "Aventuras na História", edição 094, maio de 2011, editora Abril. Escrita pelo jornalista Caio Bezerra Silva.

Data do ano de 1997 a descoberta do conhecido "Diário do viajante perdido", quando pescadores da "praia do futuro", Ceará, por acidente, descobrem na áreia, dentro de uma combuca de barro, tais escritos. Na combuca, como viria dizer a historiadora Maria Cristina Figueiroa, professora efetiva do departamento de história da UnB, era claramente indígena, típico dos povos irerê oê, que numa tradução livre, viria a significar povo pé de maré., dizimados antes da chegada dos portugueses por outros povos. Ainda não se tem uma data determinada para a época em que fora escrito, contudo apenas se sabe que antecede cerca de 200 anos a chegada das embarcações de Pedro Álvares Cabral, o que apenas torna o diário um achado ainda mais interessante e relevante para o estudo do Brasil pré-colombiano. Contudo, o maior mistério que cerca tal obra é o seu autor. O texto está escrito em latim, de autoria de aparentemente um monje beneditino. Em nenhum momento fica claro a nacionalidade do autor, tampouco como ele chegara nessas terras que num futuro longíquo viria a ser dominada pelo homem europeu. O escrito parece estar faltando algumas partes signifitivas, que facilitem o entendimento ou o trabalho dos historiadores, contudo, o que há de mais relevante no texto são alguns dos relatos do monje sobre os povos irerê oê. O autor, ainda que não fosse um pesquisador, preencheu seu diário pessoal de observações a cerca do povo indígena, e o estranhamento com a nova cultura que entrava em contato, tornando-se me alguns momentos relatos ricos em detalhes sobre os hábitos e costumes do povo da praia. Em alguns momentos, há a tentativa de reproduzir os sons da língua indígena, no alfabeto europeu, assim como os curiosos relatos sobre os hábitos sexuais dos pertencentes da tribo, seus rituais de guerra e culto adivindades sagradas: o Iurarê, o que seria o espírto da maré encarnado no corpo do chefe da tribo, e o Maptchumbare-oê, o espírito do chão encarnado em todo o povo da tribo, que daria força ao Iurarê, como seria explicado no diário.

Ainda em estudo, e não totalmente traduzido, em entrevista com a chefe do Núcleo de Estudos Pré-Colombianos, a professora Maria Crsitina Figueiroa, traz alguns trechos de algumas revelações que podem proporcionar um novo entendimento sobre o povo Irerê-oê, sobretudo, sobre o seu declínio. Contudo o diário ainda é considerada uma fonte histórica incerta, pois não conseguiu-se ainda definir uma época específica para a origem do viajante do diário. Assim como não há o conhecimento de qualquer outro relato sobre tal viajante, a não ser tal escrito. Afinal de contas, quem é esse monje? "Não sabemos. E o texto com muitas partes faltando, muitas pelo tempo que se perderam, é um texto que não tem uma continuidade e assim fica muito dificil de haver um entendimento único.", diz a historiadora. O texto escrito em latim dificulta ainda mais saber a nacionalidade de tal turista, contudo, o que acredita-se, é que ele seja um náufrago da terceira embarcação francesa, que aventurou-se a navegar pela costa do Noroeste da África.

No período de 1300, a 1400 aproximadamente, há o registro da tentativa secreta da Igreja Católica de aventurar embarcações por essa área, em busca do que pode-se chamar uma cruzada ao oeste. Todas elas mal sucedidas, levando a um abandono abrupto de tal empreitada, com o fortalecimento dos estados modernos. Sabe-se que tal embarcação perdera-se, acreditando que tenham se afastado um pouco mais a oeste do que imaginara-se, e se chocando com os rochedos da "Falha geologica da Calmaria e Boa ventura", no oceano Atlântico. O monge teria ficado a deriva no mar, e chegado a então praia desconhecida pelo homem branco, inexplicavelmente, vivo. A data estipulada pelo teste do carbpono 14 é aproximada com a data da embarcação, assim como são essas as únicas embarcações européias que tentaram se arriscar para esses lados no período. Fala-se que muito dos mitos conhecidos sobre o fim do mundo à oeste, passaram a existir de tais fracassos marítimos, enriquecendo o imaginário da população medieval.

"O que há de mais importante neste diário, são os dados fornecidos para o entendimento do fim do povo Irerê-oê. Quando nosso viajante chegou aqui, eles já se encontravam decadentes." A pesquisadora se refere ao longo período de guerra entre outras nações indígenas, a fome e rituais sanguinários. A região da praia não vinha sendo próspera, assim como a principal característica desse povo, o nomandismo, levavam a constante mudança de território e ao encontro com outras nações, sendo eles, muitas vezes, encontros sanguinolentos. Contudo, jamais podem ser caracterizados como um povo imperialista, ainda que nas guerras, quando vencedores, havia a aniquilição total dos inimigos e, como de costume, a antropofagia. Raramente havia alguma aquisição ao costume de outra cultura. A cultura oral e a caracteristica de ser um povo fechado ajudou para que se soubesse menos sobre esse povo, e por isso a importância do achado histórico. Ao que parece, não terem matado o monge foi algo incomum, contudo acredita-se que o fato de o terem achado vindo do mar, o povo o deixou conviver entre eles, mas nunca como um igual. A religião de cunho animista, endeuzava, entre outras coisas, a dinvidade do mar, e ao monge fora dado um nome relativo ao mar, apesar dele jamais ser escrito no diário. "Ele fala em certo momento que o chamam por um nome que ele não consegue repetir. A língua das pessoas da praia é composta por alguns sons guturais, e que as deformações infrigidas na língua, tornam impossível para o monge depronunciar. ... Em certo momento ele tenta criar uma escita para a lingua do povo, mas é algo muito limitado, havendo apenas os caracteres que soam iguais as letras do alfabeto europeu.".

O período que o monge chega, é justamente em um momento em que o povo Irerê-Oê, após um conflito violento com os guaranis, movem-se para um outro território, totalmente desconhecido, para logo irem de encontro a uma outra nação. É preciso antes colocar que mesmo nomades, os Irerê-oê transitavam por um território o qual se repetia: após sair de algum lugar, poucas vezes iam a algum lugar novo, senão voltavam a algum lugar que já estiveram. "Sabe-se que há algo de sagrado na peregrinação desse povo, pois voltar a terra anterior era o reencontro com os antepassados e as divindades da natureza. Era voltar a região das falésias, ou ao arvoredo sagrado, todos lugares os quais se ligavam histórias míticas e reais de lutas dos antepassados e divindades. Isso também explicaria alguns empreendimentos imperialistas dos Irerê-oê, quando no encontro com outras nações, a retomada do território antigo era um momento em que havia a transfiguração e alcançava-se a divindade. Eles então mantinham sempre um movimento que parecia um zigue-zague, abandonando o território para reencontrá-lo e reconqusitá-lo", fala Maria C. Figueiroa. A aniquilação do outro povo, dava-se na medida em que se estipulava o sagrado, tranformando a guerra na principal forma de encontro com o sagrado. Contudo, a violência frequente os levou também a um período de decadencia, pois as constantes guerras e conflitos os levaram a sua miséria economica e humana, dado os altos ínidices de mortalidade.

A chamada hoje praia do Futuro então marcou o encontro de um povo derrotado, em pleno colapso, com um estrangeiro, vindo da principal divindade, o mar. Em nenhum momento o monge parece reconhecer tal tipo de movimentação nômade, senão relata em detalhes o seu assombro com os rituais infrigidos a alguns dos Maptchumbare-oê, pelo Iurarê. Dado as derrotas constantes, o Iurarê, a dinvindade do mar encarnada no chefe da tribo, tinha o poder para reclamar mais corpos, aqueles que não forma ganhados no conflito. Quando vitoriosos, os corpos ofertados eram os dos outros povos, aniquilados. Contudo, quando derrotados, haviam de oferecer corpos de seus proprios integrantes, dos Maptchumabare-oê, o que consistia em esquartejar alguns e jogá-los ao mar, e outros, servidos para que o Iurarê o comesse. Sua alimentação era basicamente antropofágica, diferentemente do Maptchumbare-oê, que viviam da caça de animais e colheita de plantas e frutas nas matas. Após a digestão, as fezes do Iurarê eram levadas ao mar, quando não usurpadas pelos demais integrantes da tribo, que as enterravam ou comiam, na tentativa de conseguir mais força e poder entre os Maptchumbare-oê. Completa a pesquisadora: "Ser forte para os Urarê-oê significava sobreviver à guerra ou a fome insaciável do seu chefe e sua divindade, basicamente." Para um povo que já havia sido derrotado, e sofrido os pesares de constantes guerras, havia uma chacina ainda maior dentre os seus semalhantes, enfraquecendo-os ainda mais enquanto nação.

Os hábitos sexuais das tribos também são parte do relato, havendo uma descrição minuciosa da tradição de iniciação sexual das mulheres, quando eram defloradas pelo Iurarê, na medida em que os Maptchumbare-oê assistiam. Para depois, no mar, mergulhar e engravidar. Acreditava-se que era necessário ter relações sexuais com vários homens para que a criança nascesse completa, sendo filho assim da nação. As relações de parentesco modificavam-se, não hevendo um reconhecimento de quem era pai ou mãe, senão todos cuidavam de todos. Entre os Maptchumabre-oe não havia diferença alguma. Haviam apenas aqueles que eram considerados mais fortes e os considerados mais fracos, mas todos se encontravam no mesmo nivel social. Tal como outras nações indigenas, as crianças eram criadas por todos, e todos viviam nos galpões ciruclares comunais, erguidos com palha de coqueiro e madeira. As crianças, por volta dos doze anos eram considerada adultas, e seus pais tinham a obrigação de cortar-lhes a língua com dentes de tubarão, birfucando-a, em sinal de que não era mais criança.

O monge coloca que é comum ele passar muito tempo com as crianças, e que por isso, por também não ter a lingua bifurcada, vive como uma criança na tribo. Estas são protegidas, não sendo entregues ao Iurarê como um corpo ofertado, tampouco levadas aos conflitos com outras nações. Portanto, o monge esteve longe dos conflitos a maior pate do tempo, e apenas vivenciou a guerra quando uma nação guarani avançou sobre a localidade da tribo em que estava, havendo várias mortes, inclusive de outras crianças. Foi neste momento que descreve o primeiro ccntato ocm os rituais preparatorio para a guerra, quando se fabricavam armamentos e realizavam mais sacrifícios. "Há um trecho no diário que o monge descreve seu horror com aquele povo indigena, que mesmo havendo lhe acolhido, e mostrando um espírito cristão em germem, em tantos momentos, referindo-se a partilha comum e ao que chama de caridade, exibem uma verocidade demoniaca no que diz respeito aos hábitos relacionados a guerra."

A aniquilação do povo não se sabe ao certo, apenas que desapareceu completamente enquanto nação num intervalo de menos de cinquenta anos após o chamado início do período de decadência. Contudo, muito se deu mais pela dispersão e adesão a outros povos que por uma aniquilação total em conflitos armados. A fome insaciável da dinvindade do Iurarê também causavam fugas e abandonos dos Maptchumbarê-oê. Por fim, o relato desse viajante inusitado é abruptamente acabado, dado sua incompletude, não sabendo ao certo qual fora o fim de tal europeu perdido nas praias brasileiras pré-colombianas. Contudo, sabe-se hoje da importância desse diário para o entendimento de vários hábitos e fatos históricos do povo Irere-oê, sem o qual estariam perdidos. Perguntado a chefe do Núcleo de Estudos Pré-colombianos, quando esse diário será totalmente publicado então? "É importantíssimo que publiquemos esse diário, é um achado sem tamanho para a história do Brasil; contudo, é preciso ainda que haja mais pesquisa - ainda não terminamos de traduzí-lo todo se quer, e uma publicação só será possível quando este trabalho de tradução e estudo estiver concluído. Mas garanto, não demorará mais tanto." Esperemos então.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Dos nomes indesejosos

Rivaldo ganhou esse nome por causa do jogador, pai fanático por futebol e mais ainda pelo Santa Cruz. Quisera homenagear o futebolista que jamais conhecera pessoalmente. Havia ainda uma outra segunda tentativa de fazê-lo, o filho, um outro jogador de sucesso. Para decepção do pai, o filho nascera sem aquilo que se chama corriqueramente de talento. Se havia alguma semelhança com o jogador eram as pernas tronchas, que inclinavam levemente para a esquerda. Mais do que uma hablidade especial, as pernas eram motivos para muitas quedas e passes errados. Contudo, se não foi para o futebol que Rivaldo nasceu, certamente haveria de ser para outra coisa que não esportes. Primeiro por que futebol era o único jogo permitido por seu, pai, qualquer outro era motivo para que se questionasse a masculinidade do menino. Não que ele não tenha tentado o voleiball na adolescência, mais tarde, mas não sem sentir algum tipo de atração pelos colegas do time. Isso o pertubou um pouco e terminou por desistir, foi na época que decidiu-se fazer vestibular para direito. Contudo, antes, ainda na infância, chegou a fazer escolinhas de futebol, e participar de avaliações de olheiros do Santa, contudo as semelhanças das pernas tronchas e no nome não foram suficientes para encantá-los. Ficara triste na época, pensara que decepcionara o pai, o de fato o fizera. Depois desse episodio, o pai desistiu das ambições futebolistícas para o filho. Mas esse não foi o único fator, senão a chegada do seu segundo filho, irmão mais novo de Rivaldo, Ronaldo.

Ronaldo era, como todo segundo filho, aquele criado sem os erros do primeiro, acreditara o pai. O menino nasceu sem as pernas tronchas, o que pareceu um bom sinal e logo após dar os primeiros passos, o pai já colocava a bola para ele chutar. Acontece que Ronaldo, nessa época, se interessava mais em pegar a bola com as mãos para levá-la a boca, que chutá-la novamente. O pai pensou, "Ronaldo é nome de jogador de linha, mas se for pra ser goleiro, não vejo muito mal nisso, pelo menos ainda via ser jogador". No outro dia, o pai comprou-lhe luvas, grandes ainda para a sua idade e colocou no seu quarto. Ronaldo crescera muito e as luvas ainda não cabiam adequadamente na sua mão. Ronaldo fora uma criança que gostava de brincar, de correr, de pular, mas não com bola. Tinha um hábito até os quatro anos mais ou menos de colocar pedras na boca. Isso lhe ocasionou muitos vermes, e foi se tornando uma criança miúda, pequena, raquítica. Não cresceu adequadamente, e ficou pequeno para a decepção do pai, que ambicionara um goleiro. O menino porcausa do tamanho, quando ia jogar, ou não era escolhido, ou era derrubado facilmente pelos outros garotos. Começou a ficar com medo do jogo, de ser derrubado pelos outros meninos, o que lhe causou uma certa ojeriza a essa paixão nacional. Quando foi colocar o menino para fazer o teste para ir para o Santa o olheiro não o deixou jogar. Disse que era para crianças maior de dez anos. Ronaldo respondeu, tenho 10 moço, mas ele já havia lhe dado as costas. Após esse dia, Ronaldo pediu desculpa para o pai, e cresceu um pouco mais na adolescência. Tentou continuar no esporte apenas como hobby, também para não decepcionar o pai completamente, como fizera Rivaldo, mas de fato nunca quis seguri essa carreira. Já adulto sabia que não fora premeditado colocar pedras na boca, mas se soubesse que isso iria lhe ocasionar o abandono do futebol, teria feito novamente. A noite, as vezes, ainda podia sentir o estalar das pedras no dente, não sem um estranho sentimento de saudade. Pensava consigo:"O gosto da infância".

O pai, desgostoso da vida, após Ronaldo ser rejeitado pelo olheiro, passou a ter um plano meio delirante, de ter novamente um filho, um terceiro, que não lhe decepcionaria nos quesitos futebolísticos ideais. Consultou a numerologia, para saber o nome ideal: um nome certo o qual selaria o destino daquela criança no sucesso inescapável - Edson Diego. Se assombrou com o Diego, dissera-lhe ao numerologista, mas se era para que não houvesse erro, o faria de bom grado. Unir forças antagonicas pode ocasionar uma grande explosão de talento, pensara consigo. Engravidou sua mulher, esperou algum tempo, e no primeiro ultrasson, aos 4 meses, o médico anunciou:"É menina". A mãe falou: "vai se chamar Isadora, como a bailarina."