sexta-feira, 11 de março de 2011

do fim do personagem

É irrelavante a maneira de que se começa uma história, se antes sabe-se já como terminará. Uma história finaliza-se com a morte de seus personagens, digo, as que em geral se contam, tradição grega, ou talvez a morte de alguns, aquilo Medéia nos resume e ajuda: quando não há mais nada que se possa fazer. Fim, morte, num sentido mais latu, que nega qualquer outra possibilidade a nós e, mais ainda, aos personagens. Se contarei uma história trágica ou não, acredito que, contudo, conjunção adversativa preciosa esta, o percurso que nos levará ao seu desfecho, as estradas tortuosas, há de ter algum valor, que ao menos nos prenda por alguns momentos, antes que nos encontremos com o que há de fatídico. Contudo, a cada página, parágrafos que se passam se contam as palavras que ficam para trás, e nos envolvem naquela trama e teia, em que após algum tempo, grande ou pequeno, após nosso envolvimento, o autor nos brinda com o inevitável: o fim. Certo em toda história, nos é certo, tal qual a condição humana, que tudo se acabe, e aquele breve mundo fictício, construído por palavras encaixadas tal como um prédio, se desmorone ao ser fechado o livro. Acredito eu, que o fim trata-se sobretudo de uma briga de seu autor com aqueles personagens, uma vez que é impossível para eles escreverem mais. Há os autores que não conseguem matá-los, mas tampouco terminá-los, abandonando-os, e delegando o seu fim a própria incompletude: K. nos um é exemplo caro. Contudo nos deleitamos mais com a morte alegre e saudável das tragédias, que nos preenchem a alma a séculos, de pessoas que comem seus filhos, o suicídio, ou mesmo o parricídio, colorindo nosso imaginário, com pé no romantismo, dizendo-nos que é isso que nos espera, nada além do desígnio dos deuses.

Dada uma introdução sobre o fim, inicio contudo minha história, a qual vocÊs já devem antever um fim possível. Haverá morte. Talvez algum filho (gosto de Medéia), pois como autor, ainda não decidi meu personagem, ou mesmo qual será o seu drama. Contudo, já vejo linhas se formarem, num arranjo que apenas espera pela sua mote precoce, algo que me parece apenas indicar a resistencia própria para que eu escreva. Afinal, um inicio, apesar de um inicio real ja dado, ainda falta nesta historia a qual apenas antevemos o fim. De todo, não haverá pele de velocino dourado, olhos furados, amores de famílias rivais, herdeiros de tronos que se veem fantasmas, baratas gigantes, pessoas em geral. Apenas um personagem, sem nome e sem história, que apenas espera sua morte.

Se a sua vida, digo, a vida de um personagem, entendida enquanto o periodo que dura a relação com o seu autor, terá algum designio, ou aidna algum arco dramático, se aprenderá uma lição de moral, nada disso nós saberemos, pois o niilismo do autor nega-lhes a vós leitores, o direito a saber. Ou melhor, nego-lhe, ao persongem uma vida, pois só lhe desejo a morte. É esse personagem, o qual não existe, ou existe na negação de uma história, que encontra-se cerrada a tragédia. Como pode haver uma história, de morte, sem a vida. Quero apenas relatar a morte do personagem, e não a morte como personagem, contudo, apenas falar-lhe a morte, sem conceder-lhe um momento de vida.

Não posso começar falando que em um caixão cinza se encontrava F. Morrera assassinado, nunca ligara para a saúde, ainda que vivesse no século XXI. Fora advogado, pai de alguns filhos, nunca assumiu nenhum, e um lhe matara, o terceiro. Estas palavras já lhe falam da vida, da vida deste personagem ao qual tentei negar-lhe um nome e substitui, arbitrariamente por uma letra. Tarefa destinada ao fracasso. F. é um nome, se está foi a história da vida de F., a história da morte de F. ndefinitivamente não e sabe, só se sbae na medida em que F. não existe. Por isso apenas falei do final. F. não existe. O que existiu dele, já começo a desgostar, e quisera nunca ter escrito algumas palavras que o fizeram existir. Já desejo matá-lo, e como um todo, não ao meu personagem apenas, senão ao seu filho, o assassino, e qualquer um dos outros filhos que F. jamais assumira por preguiça deste autor em criá-los e conceder-lhes alguma vida. Já desejo o fim disso, talvez vocÊ queria criá-los. Eu não.