quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Do caso Madeline à Declaração Universal dos Direitos dos Órgãos.

O primeiro caso relatado aconteceu em Manchester, Inglaterra, deu-se enquanto um caso de separação litigiosa na vara familiar, julgado pelo juiz William Kossick, ingles de decendência alemã. Tal caso foi analisado sem os apelos midiáticos pela primeira vez no I Congresso Internacional de Ciências Jurídicas em Glasgow. Analistas não sabem se este caso foi um precursor, se os órgãos já não se revoltavam antes, mas sem dúvida abriu as portas judiciais para resultados favoráveis aos orgãos e não ao organismo. No entanto, alguns cientistas jurídicos afirmam que com o decorrer dos fatos e a maior frequencia de casos parecidos, talvez fossem melhor julgados numa nova instância a ser criada, a vara dos órgãos: aquela que julgaria os casos em que órgão processam pessoas e outros órgãos - ouvidos processam dedos, línguas processam dentes, barrigas processam seus donos - já que estes, como veremos a seguir, merecem tratamento jurídicos diferenciados.

Não é de se espantar que o primeiro caso tenha sido justamente uma barriga revoltada com sua condição de obesa, pede divórcio com o resto do corpo, processando assim Madeline Brosman. A barriga de Madeline, chamada assim nos autos do processo (até então, os órgãos não tinham o direito de ter nomes próprios), acusava Madeline, dentre outras coisas, de desleixo, preguiça crônica e exagerado apetite; caracteristicas as quais agravavam a situação, forçando-a a ficar debruçada constantemente sobre as genitália de Madeline, lugar oriundo de um terrível mal-cheiro. Ela exigia uma separação o quanto antes, assim como o pagamento de uma pensão e outros direitos conferidos a um casal divorciado. Em sua defesa, Madeline afirmou que não tinha vontade de emagrecer, e sentia muita raiva de mulheres magras, sinônimo de beleza até então. A sua barriga era a representação de si e de sua revolta à anorexia. Para ela, portanto, uma separação causaria danos irrparáveis à sua pessoa, sendo isso inaceitável. Quanto ao mal-cheiro dizia tratar-se de calúnias, e não exiatria em provar a qualquer duvidoso de que sua vulva exalava um odor bastante agradável.

Para que compreendamos o julgamento favorável à barriga de Madeline, é preciso ir além da relação de Madeline com sua barriga, ou mesmo ao apetite exagerado dela. Compreendamos duas outras histórias relevantes para o julgamento, no intuito de não termos uma interpretação leviana acerca dos fatos. A primeira, a tradição do divórcio na Inglaterra, lugar que tem sua história política marcada por reis e rainhas desquitados, algo que segundo alguns historiadores tornou a ilha do mar do Norte como o país com mais casais separados. Segundo, a história do juiz William Kossick, e a relevância que sua decedência alemã tomou ao julgar este caso. Apesar de ser inglês, desde sempre nutriu um certo apaixonamento pelo aquilo que vinha do continente, como a adesão ao pensamento racionalista, e gosto pelos contos do Barão de Munchaussen, que coloriram sua infância. Ao deparar-se com o caso de Madeline, lembrou-se do Rei da Lua, personagem dos contos do Barão, o qual tinha a cabeça separada do corpo, como uma alusão à separação entre alma e corpo cartesiana, o qual no pensamento do racionalista francês era algo completamente possível. Sendo assim, tal divórcio deveria ser tratado como a cabeça do Rei da Lua que desejava afastar-se todo o tempo de seu corpo, uma relação, assim como a de Madeline ocm sua barriga, marcada por muitos desentendimentos.

Temos ainda o advogado de Madeline, Pierce Barry, acostumado com processos de divórcio envolvendo abuso sexual, julgados na vara criminal, e não da família, passou a aconselha-la, com o decorrer do julgamneto, a aceitar o divórcio, uma vez que a barriga de Madeline poderia agravar a situação com um processo de abuso sexual. Obrigar a outra pessoa cheirar a genitália do outro, mesmo sem a intenção de, poderia ser enquadrado num crime de abuso sexual culposo.

Portanto, algo irrealizável até então, o juiz da sua sentença a favor da barriga. Suas palavras finais foram transcritas no seguitne trecho:

"Este é um processo que muitos, mesmo não estando na posição de juiz, julgaram-no absurdo por sua natureza inesperada ou incompreensível, e portanto apenas um resultado seria possível: favorável a Senhora Madeline Brosman. No entanto lhes digo que minha compreensão, distinta, autorizada por minha posição, afinal, foi a mim que caiu a decisão sobre tal julgamento, surge numa contra-corrente: julgo sentença favorável à Barriga de Madeline. Este processo irá não apenas acabar de uma vez por todas as discussões da divisão entre corpo em alma, se são inseparáveis ou não, como, assim como nos contos do Barão de Munchaussen, o qual travava uma luta não apenas contra a morte, senão também contra a lógica e a razão. Se tal processo é incompreensível, a razão nos é então nada mais que inútil para uma decisão. Tal como o Barão, não me utilizo da razão para julgar. Julguei com a minha desrazão, e posso já vizualizar as consequencias deste novo modo de pensar. Minha sentença separará os órgãos do organismo, maracará a derrocada da alma sobre o corpo, abrindo precedentes para tornar-lhes, os órgãos, seres de direito. Tal questão nos coloca numa posição até então jamais visitada: é o organismo responsável por seus órgãos? Julgo que um resultado favorável à Barriga de Madeleine só é possível se entendemos que Madeline negligenciou cuidado à sua barriga, e ainda a expos a situações de risco e degradação, havendo sistemáticas situações de assédio. À Madeline, portanto, condeno-a a uma sentença em regime fechado em prisão estadual de segurança mínima por abuso sexual culposo, por 2 anos, assim como a exigência de que durante o período de reclusão, mude seus mal-hábitos, e realize exercícios físicos. É da responsabilidade também de Madeleine o pagamento de uma pensão alimentícia de 50% de seu salário à sua Barriga, sob a ameaça de pena de reclusão, caso os pagamentos não sejam efetivados."

A mídia a princípio não acompanhou tanto o caso, mas o agravamento da situação e seu apelo sensacionalista, o qual sobretudo pelas declarações cada vez mais injuriosas que a barriga de Madeline realizava contra ela, virou um grande tema de discussão, sendo acompanhado com afinco por toda a população, ganhando apelo internacional. Tal repercussão só aumentou frente ao julgamento, quando as palavras finais do juiz foram divulgadas, havendo então cada vez mais processos do tipo: mais barrigas processando os maus-hábitos dos seus donos, que com o tempo passaram e serem chamados de organismo-portador ou termos mais radicais, organismo-privador; assim como organismos passaram a processsar suas barrigas, querendo também divórcio. Mas os problemas aumentaram quando outros órgãos passaram a processar os organismos. Casos de fígados processarem o organismo portador, acusando-os de bebedeira, e exigindo indenização multiplicaram-se pelo mundo. Logo então, órgãos passaram a processar órgãos. Os mais comuns: línguas processavam dentes; instestinos processavam pâncreas; coração processava o cérebro, e este exigia por sua vez, a volta do reconhecimento da representação da alma. A alma, por sua vez não era mais possível; o que outrora já havia sido um sujeito passou a ser muito mais compreendido como um condomínio hábitado por muitos, que nem sempre se entendiam.

A situação se agravou quando relatos doenças auto-imunes revelaram-se como atentados terroristas, ou corações que paravam a fim de justificarem sua importância frente ao funcionamento do organismo, quando não o cérebro que exigia esse reconhecimento e deixava de realizar suas funções propositalmente passaram a ocorrer. Tais casos inicialmente passaram a ser analisados nas varas criminais em alguns países; alguns configuraram homicídio doloso, com penas de reclusão no formal, ou habitar outro organismo-portador/privador de algum prisioneiro. Alguns desses países passaram a criar organismos-portadores/privadores para agruparem órgãos infratores chamados formalmente de organismos-prisionais; informalmente de Frankensteins enjaulados. Mas na maioria dos países, continuou-se a analisar casos que envolviam órgãos enquanto próprios da vara familiar.

A discussão em todos os países se deu exatamente nesse ponto, que com a multiplicação de um quadro de processos envolvendo órgãos e organismos-portadores/privadores, não havia uma vara própria para tais casos, deixando assim os órgãos numa certa "reconhecida informalidade" (Stromberg, 1987, p.325), dada a dificuldade de enquadre em qualquer uma das varas já existentes. Nesse sentido que 32 anos após o caso Madeleine, jurista do mundo todo se reuniram no I Congresso Internacional de Ciências Jurídicas em Glasgow, onde foi proposto a criação de uma vara especial: a vara dos órgãos. Houve bastante divergências, pois algusn juristas alegavam que os órgãos não eram seres de direito, outros que não havia necessidade de uma criação de uma vara desse tipo, pois assim, estaríamos enquadrando todos os processos envolvendo órgãos aí, e lhes negaríamos o direito de julgamentos em outras varas.

A Barriga de Madeleine, agora com um nome próprio, Lorenzo Guttemberg, compareceu ao congresso, desquitada de Madeleine, divulgando seu livro, A luta pelo direito dos órgaos, e em ação política. Foi aí também, em Glasgow, que foi reconhecida a importância para a luta dos órgãos por seus direitos e o pioneirismo do caso Madeleine. Seu discurso foi entremeado por vaias e apalusos calorosos, de organismos e órgãos. Línguas gritavam elogios, enquanto outras chigavam-na veementemente, acusando-a de anarquista e de ataque a moral e os bons costumes.

O I Congresso Internacional de Ciências Jurídicas em Glasgow, não repercutiu como o esperado pelos órgãos, havendo considerações quanto ao caráter planfetário que ganhou o congresso. No entanto, observa-se aí a primeira tentaiva de um plano internacional para a situação legal dos órgãos afim de tirá-los da informalidade legal. Após alguns anos, foi a Itália que primeiro transformou seu sistema judiciário para a criação dessa vara. Os demais países foram transformando-se aos poucos, alguns ainda não a incorporaram. Outros que o incorporaram, já criaram tal vara bastante diferente do projeto inicial proposto em Glasgow.

Outras tentativas aconteceram, mas nenhuma mais importante que a de Rotterdã. Apenas cerca de cinquenta anos após o caso Madeline que em Roterdã foi realizada a primeira Declaração Universal dos Direitos dos Òrgãos. Dentre os principais tópicos, temos:

I. Todo órgão é igual em seus direitos, sendo todos eles seres de direito;
II. Todo órgão é livre para participar ou não de um organismo-portador;
III. Todo órgão tem direito a um nome próprio que o diferencie de outro órgão, se assim o desejar;
IV. Todo órgão tem direito de exercer suas atividades livremente, de acordo ou não com o organismo-portador;
V. Todo órgão tem o direito de habitar um organismo, se assim for de acordo com a comunidade de órgãos que o habitam;

Estes cinco pontos são os mais fundamentais. Todo eles foram desenvolvidos e discutidos em uma luta política formalmente encontrada em cinquenta anos desde o caso Madeleine. A declaração ainda é muito polêmica, uma vez que há organismos-portadores/privadores não querem reconhecê-la, assim como grupos de órgãos, chamados informalmente de anarquistas, acusam-na de burocratizar os órgãos, negando sua essência de órgãos, tornando-os nada mais que outros organismos menores.

Por fim, é nesta situação que nos encontramos hoje, pendendo ora para a reconstituição do organismo portador como o único ser de direito, ora para destruição do pensar racional e o espedaçamento do organismo.

sábado, 21 de novembro de 2009

Pedro abençoado

A chuva começou de madrugada. Pedro estava dormindo, mas ouviu a chuva e sonhou que tomava banho. Acordou com sede em mais um domingo.

Levantou-se, caminhou até a janela, e escutou a voz forte que batia no telhado e escorria para o chão. Definitivamente, não foi este barulho que o acordou, senão a sede. Talvez fosse hoje o dia?, se perguntou. Foi a cozinha e bebeu um copo d´água. Já era dia, ainda que cedo, mas as nuvens insistiam em barrar a luz, e deixar uma escuridão cinza marcar o céu.

Pedro, que morava no bairro do São José, não tinha ainda programa para aquele domingo. Pensou em ir ao culto, ou assistir a chuva, como fazia religiosamente em dias nublados. Foi ao parque treze de maio, na chuva. Passeou com uma capa azul, meio transparente, que deixava atravessavar a cor da camisa branca que usava embaixo. Tinha ainda um guarda chuva safado que quebrou com o primeiro sinal de vento mais forte um pouco. A capa foi suficiente; molhava um pouco a testa, e atrapalhava um pouco a vista, embaçando os óculos, mas protegia a maior parte do corpo. Tudo o que precisava era dos seus ouvidos.
A praça vazia, em época de chuva, afastava inclusive os mendigos que ali habitavam. Se mudavam temporariamente para as marquizes das ruas vizinhas. 'VocÊ tem que ter uma saúde de ferro para ir, nessa chuva, caminhar no treze de maio', imaginava o que iriam lhe dizer. Em verdade costumava ter, ficou doente a última vez na infância, curado por uma benção. Não tinha medo de gripes, sabia que Deus tinha um plano para ele, e esperava o seu chamado.
Talvez uma chuva forte fosse o prenúncio de uma nova ordem, de uma nova manifestação de ira do Senhor. Pedro gostava quando chuvia. Lembrava-se de Noé. Pensava que agora iria ouvir o seu chamado, que conseguiria uma counicação direta com Deus, "seria agora que me enviaria um anjo, que me chamaria para atender o seu chamado? Senhor, estou pronto".

O parque vazio na chuva era um bom lugar para decifrar a voz de Deus. Sabia que o barulho da chuva que cada som que as gotas da chuva faziam quando caiam continham uma mensagem a ser decifrada. Pedro fechava os olhos e escutava uma sinfonia das águas escorrendo do céu para os telhados, plantas, pessoas, carros, e toda a sujeira que circulava na cidade. O cheiro forte que sobe é a própria angústia que Deus sente com os recifenses. Precisamos de um lugar limpo e todos os que mais precisam do banho sagrado estão protegidos. Fechava os olhos e sentia que podia ouvir num grande ruído toda a natureza, sons emitidos pelos siris mergulhados na lama, às baratas nas galerias, aos homens comentando o último jogo do Santa.

Pedro sabe o que Deus quer dele. Sabia que aquela chuva queria dizer-lhe algo. Ele podia sentir, mas não traduzir em palavras. Sempre soube, desde aquela benção que o curou de uma gripe forte e o aproximou definitivamente à direita do Pai. Sabia que estava ali para ser instrumento, e a chuva seria o canal de comunicação, traduzia toda a natureza, ligava todas as águas, ali ele tinha o mar, os rios, os canais, os esgotos evaporados e purificados no pleno contato com o Divino.

Pedro aguardava, quando vou entender? quando a mensagem me será revelada? Sabia que não devia ficar ansioso. Quando a hora chegasse, ele iria saber.

As águas continuavam a cair do céu. A chuva parecia ter engrossado. O que isto poderia significar? Não sabia. Pedro tinha vontade de chorar. "Por que este martírio Senhor, por que me forças a andar às cegas?". Sentia raiva, revolta. Seria ele espelho da vontade divina? Sua raiva era a raiva do Senhor? Estaria ele ligado por aquela água de modo purificado para sempre à Deus, sendo ele agora órgão das atividades divinas.

Olha para frente, vê as plantas. As árvores antigas que sempre estiveram naquele parque. Pedro se sentia igual a elas. Sou filho de Deus, produto da natureza, pensava solitariamente. Sentia-se parte do ambiente. Aquela espera, ainda que demorada, ainda que martirizante, fazia-o sentir-se como aquelas plantas, pertencentes ao treze de maio, e isso trazia-lhe uma alegria, uma sensação única de pertencimento. Pensava às vezes que não queria decifrar nada, queria apenas viver embaixo da chuva no treze de maio. Quando a chuva acabava, em outras vezes, sentia a obrigação de sair dali, além de se sentir incapaz. Incapaz por não poder continuar ali junto com a chuva.

Às vezes queria ser Deus, e fazer chover sem parar. Gostaria de matar todos afogados, as plantas, as pessoas, as crianças. Derramaria uma chuva ácida que derreteria o bronze das estátuas do parque, o ferro dos barcos e a casca dos siris. Às vezes Pedro tinha muita raiva dos mendigos que se protegiam da chuva e mijavam no chão. Tinha raiva dos lojistas que não acolhiam os mendigos. Tinha raiva dos carros que passavm e atropelavam os mendigos. Tinha raiva da chuva que todos odiavam.

Pedro às vezes se sentia muito confuso. Queria esperar, queria ter paciência, queria que a chuva o cobrisse até que morresse sem ar. Queria que a chuva só matasse ele, que era surdo e não entedia Deus. Queria criar raízes embaixo da terra, e comer o barro de onde veio. Pedro não aguentava mais os dias de sol, não aguentava mais o fedor do bairro de São José, não aguentava mais o banho que a chuva lhe dava. Ele não queria mais esperar. Pedro queria nunca ter sido abençoado.

Pedro não escutou voz nenhuma. A chuva engrossou e seus óculos estavam completamente embaçados.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

tout le monde sont bricoleur!

Do que eu me acuso? TOUT LE MONDE SONT BRICOLEUR!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Você sabe que é plágio. Não vim aqui lhe acusar, mas você sabe de quem foi a idéia. Eu lhe contei, e você não teve coragem de mudar uma só palavra, acrescentou algumas claro, nas lacunas, onde estava incompleto, mas sabe que eram minhas. As lacunas também eram minhas. Não vim lhe ameaçar, mas você sabe que esse é o meu jeito de sobreviver nesse universo, chamado planeta terra. É impressionante o que você fez, acho que nunca veria escrito as minhas palavras, e para a minha surpresa, esse plágio agenciou minha desnessecidade com a sua inescrupolosidade. Além de gordura, você precisa emagrecer, precisa de mais lacunas. Eu tenho todas elas, e dentre elas é o meu texto que você escreveu. Essa é a minha arte, é a minha cultura. Você sabe que não deveria ter feito isso, você sabe o quão gordo e fedido você é. Você sabe de muita coisa, e é essa consciência que servirá de ameaça. Eu não vou cobrar nada. Mas você sabe a origem de tudo, e espero a sua culpa ardente. Eu só vim apontar a ferida, mas você já enfiou o dedo, porque você sentiu a dor a muito tempo, antes de pegar minhas palavras e encher com a sua gordura. Quando teve a idéia, e começou a cuspi-las, ouvia e cuspia, uma palavra para cada gota de saliva, mas ainda, no final temos mais saliva, tínhamos uma poça, e você escorregou nela só, nem precisou de um empurrão e por isso eu não vim lhe ameaçar. Por que você não aguenta a culpa, você não aguenta a ferida aberta, e se fosse mais magro, já estava de pé. Eu não vou te dar uma mão sequer - nem para acusar e denunciar. Você sabe que é plagio. E você sabe também porque nunca escrevi. Perversão amigo, perversão. É isso que diferencia escritores de plágio: perversão. Porque diferente de você eu não tenho culpa. Não tenho barganha, e por isso você não é um escritor, você plagia. Você sabe que é plágio. Você tomou para si, e digo então: engula-as e Bom Proveito!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O desaparecista

-Doutor, nessa ultima semana tenho sentido algo estranho, sinto como se eu estivesse, não sei, desaparecendo, de maneira cada vez mais gradual. Acho que de maneira geral, isso já vem acontecendo há um tempo, mais só tenho percebido como algo mais recente, algo mais novo, digo a consciência disso, sei que você trabalha com o inconsciente, e não sei se isso é tão inconsciente, acho que hoje tem sido cada vez mais claro essa certeza. Hoje eu sei o que está acontecendo comigo, sinto como todo esse período de análise que vinha fazendo só me ajudou para que eu confirmasse isso: que estou desaparecendo. Nunca antes tudo me pareceu tão claro, não sei se tem algo haver com minha mãe demorar muito para me amamentar, as vezes eu chorava muito para que ela fosse me amamentar, não sei se tem haver, porque, segundo ela, ela dizia que eu que demorava muito para chorar, e aí ela ia dormir...
-Mas o que faz você ter certeza hoje?
-O que faz eu ter certeza hoje? Na verdade não sei se tenho tanta certeza, acho que eu comecei a sentir isso quando estava no ônibus, indo trabalhar. Isso já faz tempo, não foi essa semana, essa semana não aconteceu muita coisas, nem fui trabalhar, mas acho que só essa semana eu comecei a entender de alguma forma o que vinha acontecendo. Sabe, já fazia algum tempo que vinha percebendo algumas coisas estranhas, mas não eram totalmente estranhas, pois já algum tempo que eu comecei a ficar habituado com elas, mas não totalmente confortável com elas, digo com essas situações. Acho que me lembro, como falei antes, quando estava no ônibus certa vez indo para o trabalho, de manhã cedo, subiu uma senhora, não muito idosa para estar na parte dos idosos, mas velha o suficiente para pagar a passagem, e o ônibus não estava vazio, sabe, ainda tinham alguns lugares vazios, mas menos que a metade. Enfim, o que acontece é que ela veio se dirigindo na minha direção, eu estava sentado no corredor, como comumente faço, apesar de que tinha outra pessoa na janela, pois não queria ficar no sol, e na hora que saio, so tem lugar no sol, ou então no corredor; mas a senhora veio se aproximando, andando bastante decidida, ao menos parecia, não me pareceu suspeitar do lugar que ia sentar, ate chegar tão perto, mas tão perto, que sentou em cima de mim. Eu me levantei e falei, “minha senhora!”, e alguns que olharam, ficaram achando meio estranho sem entender, tanto quanto eu, E a senhora mais ainda, envergonhada, o que me fez parecer que tanto quanto eu, estava surpresa, pediu desculpas, e disse “Desculpe meu filho, eu não te vi aí”. Eu em pé já, falei, tudo bem, e então ela sentou no lugar que eu estava, e os curiosos voltaram a olhar pros outros lugares que estavam antes dessa confusão, que não foi bem uma confusão. Em segundos eu já não tinha mais platéia, nem lugar, já que a tal velha sentou no meu. Mas não foi só isso, se fosse só isso eu acho que estaria bem. Tem também os encontrões na rua. As pessoas simplesmente esbarram muito em mim, e depois escuto o que a velha me disse: Desculpe, eu não te vi aí. Sempre escutava, desculpa, quando não era eu que me desculpava. Mais no começo eu ouvia desculpa, depois eu passei a dar mais desculpas, e hoje em dia nem escuto mais nada, só uma cara assustada, quando não zangada, quando nem nada. Acho que a última é a mais atual, total indiferença. Mas por muito tempo achei que fosse pressa dessa cidade que ta ficando cada vez mais caótica, hoje em dia você não consegue chegar no Derby de ônibus às 7:30 sem perder pelo menos uns 40 minutos na Agamenon. E por isso todo mundo corria, mas se fossem só esses dois eventos separados, sabe? Digo, os vários esbarrões, acho que isso acontece com todo mundo, levamos muito esbarrões, e nem temos tempo pra falar, pra ouvir ou dizer desculpa. Eu ficava imaginando se um dia eu iria esbarrar na minha mulher por exemplo, e se ela passaria direto. O engraçado: que triste a minha fantasia, nem muito precisei esperar pra que meu desejo acontecesse, e não ouvisse nada, nem desculpa. Sabe né que eu a conheci num esbarrão. Parece até um clichê, mas é verdade. Já te contei isso.
-Hum...
-Pois é, talvez por isso minha fantasia de esbarrar de novo com ela na rua. Não sei reviver os tempos da juventude, seria bom talvez. Mas só tive a indiferença habitual, assim como todos. Acho que isso também, digo, os eventos mais familiares também me ajudaram a entender o que está acontecendo comigo. Minha mulher, no começo, quando eu chegava em casa, ela se levantava, vinha até a porta, me beijava, e quando geralmente, terminávamos transando. Claro que hoje não precisaríamos transar toda vez que eu chegasse em casas, acho que que isso já faz tempo, e isso já desapareceu da minha vida, digo o sexo. Mas aos poucos foi diminuindo, tudo, não transávamos todo dia quando chegava, apenas se levantar e o beijo mais demorado, pra então beijos mais rápido, pra então beijos na bochecha, pra então um abraço, pra então, um não se levantar e me chamar pra chegar perto e eu beijar a sua testa, pra então nem olhar, e só olhar quando eu chamar o nome dela, pra então nem olhar depois deu chamá-la: “Neusa, cheguei.”, e só depois de eu ligar a luz. Não sei se deveria ir a um médico ou a um psicanalista, talvez um médico fosse mais indicado. Não vou mentir pra você doutor. Eu fui num médico. Quando comecei a dizer que estava desaparecendo, ele mandou eu vir ao meu psicanalista (eu tinha dito a ele que fazia análise já) e me deu esse remédio. Mas não tomei. Doutor, acredite em mim, estou desaparecendo. Ele não deixou eu fazer nenhum exame! E se for alguma doença auto-imune, alguma infecção vinda do espaço? Sei lá, isso hoje parece tão comum, tudo vem do espaço, quando não é da China, ondas de rádio, ondas de celular, ondas ondas. Uma síndrome desconhecida, já que todos os pacientes desapareceram antes de registrarem? Eu posso estar morrendo e ele me dá um anti psicótico! Que merda! Eu fico angustiado, acho que não estou sendo levado a sério, eu tenho evidências! Uma série delas, acho que nessa semana eu pude pensar nelas. Me lembro bem de uma, na fila do fast food, no Shopping, a garota: “Próximo!”, e eu vou, e a menina grita de novo: “Próximo!”, e então eu tenho que chamar a atenção dela, Minha filha, eu to aqui!, eu não disse assim, disse algo do tipo, “aqui...”, ela olhou, pois não senhor, e eu fiz meu pedido, Nº6, e ela, pois não Senhor, pronto para pedir?, Eu sim, nº6, e ela fica parada me encarando, e fala, pois não senhor pronto para pedir?, e eu falo, Sim! Já lhe disse!, Desculpe senhor, eu não entendi o pedido, O Nº6!. Ela então registrou o nº 3. Comi, já tinha pago. Mas não é só isso, me lembro na escola, há muito tempo, as vezes o professor perguntava alguma duvida, e eu levantava o braço, mas ele nunca via, ate eu desistir de levantar o braço, e ficar com minha duvida. Ate hoje eu não entendi o porque que a família real portuguesa voltou para Portugal, ou então produtos notáveis, ou quem foi Felipe Camarão. Acho que já é muito antigo, desde a infância os sintomas vem aparecendo, olhe aí. Por isso pensei numa síndrome. Isso também tem acontecido no meu trabalho, imagine que em reunião eu não consigo mais dar opiniões, por que ninguém escuta, como na fila do fasfood, as pessoas não me escutam, ou não me vêem levantando a mão para pedir a vez para falar. Eu passei com o tempo a mandar opiniões por e-mail. Eu nunca faltei uma reunião, ou mesmo um dia de trabalho, e por vezes já recebi descontos no salário, tido como débitos por ter faltado alguns dias. Isso até me lembra uma piada, mas eu não vou contar, eu não sou bom em contar piadas. Na verdade nem é tão boa, acho que me lembrar uma piada só por eu querer que fosse uma piada isso tudo, mas não, isso tem acontecido mesmo, e por muito tempo eu tenho achado natural sabe? Assim como eu tive que me acostumar com o sono pesado da minha mãe, ou tive que ficar no ônibus em pé, ou esbarrar calado em todas as pessoas nas ruas ou ficar calado a maior parte do tempo em todos os outros lugares. Eu não acho isso necessariamente bom, acho que faz algumas semanas que isso veio realmente me preocupar, digo começar, porque saber o que esta acontecendo comigo foi apenas essa semana, mas me preocupar e achar que algo estava acontecendo, já faz algumas, talvez meses. Vou dizer quando: foi quando minha mulher, na época que ela ainda abraçava, antes de não se levantar, um dia me abraçou, quando cheguei e com o nariz no meu cangote, falou: Estranho. Eu: hum? , ela, estranho, funcfunc, não consigo, funcfunc, e fungava mais partes do corpo, meu cabelo, meu suvaco, e eu, que foi amor?, não consigo... achar... Você... você ta sem cheiro! E eu? Hum?, e tentei me cheirar, tentei mesmo, fui no espelho, no banheiro, tomei um banho, gastei quase um sabão inteiro, e depois que sair do banheiro, não conseguia cheirar a nada, estava realmente sem cheiro, não cheirava a nada, eu não exalava nenhum fedor, nem nenhum cheiro bom, eu cheirava simplesmente a nada. Mas isso perdurou, colocava perfume e nada. Seguiu por vários dias, o cheiro do perfume ficava só no cômodo em que eu colocava, e não em mim. Eu passei a colocar perfume nos cômodos que eu chegava, mas eu não recebo tanto, e passei a usar perfumes baratos, acho que fiz isso aqui também, eu confesso, fiz sim na semana passada, na recepção e aqui, mas o senhor não viu, acho que estava no telefone na hora, assim que eu cheguei. A minha crise, digo, minha grande crise, começou na semana passada, quando eu já sem dinheiro, afinal, final do mês e com descontos no salário, teve pouco salário pra muito mês, e ainda uma semana antes de receber, meu perfume acabou, e eu não tinha como comprar um. Sem esse perfume, eu consegui descobri o que vinha acontecendo comigo. Percebi que as pessoas no trabalho não falavam comigo, elas me ignoravam completamente, menos quando por e-mail ou apenas interagiam comigo quando eu sem querer derrubava alguma coisa, um grampeador ou um celular, e eles pegavam e tínhamos conversas curtas, dessas que a gente nem escuta o que o outro fala, tipo, deixa que eu pego, ta bom, brigado, desculpa, e quando chegava em casa, minha esposa sentada vendo TV sem nem perceber que eu cheguei. Só percebia quando eu acendia a luz da sala, e ela falava, “amor é você?” Na sexta passada que eu cheguei, eu não liguei a luz. Fui para a cozinha diretamente, comi só, e fui dormi. Ela nem estranhou, nem falou, e acho que eu passei a entender, que o que acontecia era que na verdade eu estava desaparecendo. Acho que foi nessa noite, eu não consegui dormi quase, que eu consegui listar essa série de acontecimentos. E não estou desaparecendo só fisicamente, mas as pessoas também começam a esquecer a minha existência. Certo dia liguei para minha mãe, ela ta bem senil, mas ao falar mãe, sou eu, ela, quem? Minha esposa só lembra de mim porque eu interagi com ela através do interruptor. Ou os colegas de trabalho quando nos correspondemos por e-mail apenas. As pessoas não pedem mas desculpa por que eu sou incapaz de interagir com elas diretamente, e de tão irrelevante que tem se tornado meu peso, não existe nenhum choque para elas ou nem memória de qualquer esbarrão. Eu não quis isso, mas eu não tinha no que me agarrar, ou como, acho que ainda não quero, eu não quero tomar um anti-psicótico, eu fiquei com muito medo, sei que não estou doido Doutor, virei os espelhos lá de casa ao contrario, tava com medo de um dia me olhar e não me ver, mas depois desvirei, talvez eu esteja começando a aceitar não sei, essa semana não fui para o trabalho, nenhum dia, acho que não dá mais para ir, é como as coisas para mim também estivessem começando a desaparecer. Outro dia tropecei numa pedra que não tinha visto, foi essa semana, e depois eu me esqueci que tinha topado nela, e foi só isso, agora eu lembrei, mas não fiquei me lembrando que tinha uma pedra no meu caminho, eu não me lembro de muita coisa. Nessa mesma hora tentei me lembrar de tudo que eu não lembrava, de tudo que eu tinha esquecido, mas não dá, eu trouxe algumas coisas, acho que hoje eu falei mesmo da minha mãe, acho que me lembro do que ela se lembra, mas eu queria lembrar do que eu vi como era, mas não consegui. Eu acho que comecei a entender. Eu tinha medo de que não me vissem, e ainda tenho medo. Acho que minha percepção tem diferenciado enquanto a isso, acho que isso tudo só tem uma maneira favorável para mim de acabar ...

Ele escuta um barulho no chão e vê uma caneta rolando até ir para embaixo do divã. Senta-se, e olha para trás, percebendo então que seu psicanalsita estava dormindo, já em sono profundo. Levanta-se, pega um cobertor, cobre-o carinhosamente, e fala, Adeus Doutor. Sai, apagando a luz antes. Diz um adeus para a secretária na recepção a qual parecia muito ocupada para responder, dando a impressão de nem ter escutado. Sai pela porta da frente e desse a ladeira em direção a sua casa. Olha para a própria mão e vê que ela começa a desaparecer. Pensa com felicidade: “Finalmente”, e desaparece para si mesmo antes de chegar na esquina.

terça-feira, 31 de março de 2009

:::::SINTOMATRON:::::estrutura:::::PROGRAMA:::::

input:
Condicional: Se (A)
output:
logo (B)

*input(1):
comando - identificação primária ( na/pela Função materna)
(A): forclusão (1),
outpu: psicoe (B), S1*; *=n

GRÁFICO - COMANDO AUTOMATISCH (nicht ONTHOS)

m(i+s)<----->f(R)<--/--->

f= -$ ; s1*; *=n

*input (2):
comando - olhar desviado
(A): denegação (2)
output: perversão (B) - lugar shakesperiano do falo

GRAFICO COMANDO AUTOMATISCH (nicht ONTHOS)

m<---/--->f(i+R)<<----- LdP (S)

*input (3):
comando - Lei do Pai
(A): castração (3)
output: neurose (B) - $

sábado, 28 de março de 2009

Vamos Fale! Está certo, vou confesar, mas sem essa formalidade toda, pra que? Vamos, fale! Logo direi, estou falando afinal, não sei o que você quer ouvir, afinal importa o que eu quero dizer, ou tenho a dizer e não quero falar...Vamos Fale! Falo, falo aogra sim, pra você, ou pra mim mesmo, tudo o que tenho a dizer, a ouvir também, já que estou falando e escuto, já que falo pelos ouvidos e escuto pela boca, e a visão é trocada, vendo o cabelo, a vista torta debaixo da lingua, não conhecia minhas glandulas,vamos fale!, estou elaborando, tentando fazer que tudo faça sentido, o mínimo possível ao menos, para você, pra mim já faz, digo para mim não, mas para alguém, talvez seja por isso que eu tenha que falar, uma voz que fica, vamos fale!, é, eu vou dizer, já estou falando, uma obra total, tudo é total, digo, tenho um bolso grande, e o que não cabe, carrego no meu estomago, lacrado pelo piloro, devo ter tomado uma rolha certa vez ao inves do vinho, tudo que como fica, e por isso engordo, o gordo falador, sou eu, vamos fale!, falo da voz que escuto pela boca, antes mesmo que meus ouvidos gritem, eles apitam, e falo ao contrario numa lingua estrangeira, conhecida por mim e meus intestinos, inuteis, o pirolo nao faz nada, foi assim que matei a outra voz, a voz solitaria que vivia no meu duodeno, fazia uurrr, e eu avisava, foda-se, já não preciso mais comer, só falar! e a lingua pulava de raiva, gritando, tenho muita fome! tenho muita fome!, enquanto isso, meus ouvidos cada um ria separadamente, e na vredade, so falava sobre babel, a torre que devia cair depois de dois dias, mas se tem algo pra dizer é isso, e não vou mais me aguentar, os meus ouvidos estão começando a ficar autoritários, falam muitas ordens, falam ordens de mais, e sou que ordeno, sou eu os ouvidos, e sou so os ouvidos, e eles querem ir embora, e entao tive de sacrificar meu duodeno, porque não entendem a hierarquia do meu império? Vamos, fale! Não vem que um prisioneiro desses, traiçoeiro que nem ele, precisa ser eliminado, não é o discurso das siringas estrangeiras, tentando trazer democracia ao meu estado, que hão suprimir o poder das minhas orelhas! Eu sou elas! entendem?! Eu sou elas, e tudo que faço é por elas! Eu ouvi muita coisa já, todo o corpo obedeceu outro corpo, agora sou um outro organismo, um imperio que está se aranjando, as orelhas cansaram de ficar mudas, e agora são elas a minha voz, e não vou ficar calado, ouviram?! Não vou ficar calado! Todos os sacrifícios feitos até agora, não haverá perdão para nada, e nenhuma voz será poupada! Nenhuma!!!

terça-feira, 24 de março de 2009

Rio Doce/Dois irmãos

Essa é minha arte,
Essa é minha cultura,
Esse é o meu jeito de sobreviver,
nesse universo, chamado planeta Terra.