quarta-feira, 28 de março de 2018

Encontro conflituoso

Você demorou
Não acho que isso seja um fato.
O que? 
A demora, não acho que seja um fato. 
Estou aqui há mais de um hora. 
Mas você se adiantou. Não pode contar desde a hora que chega. 
Eu conto desde a hora que cheguei, porque já estava aqui e não me restava muito mais o que fazer a não ser contar as horas.
Não acho que isso seja um fato.
De novo com isso.
Em cinco segundos consigo pensar em pelo menos três coisas diferentes que você poderia fazer.
De fato. Contar carneirinhos, contar bezerrinhos, contar um conto.  
Isso porque estamos falando apenas coisas possíveis de contar. Eu mesmo costumo enrolar meus cabelos enquanto espero. 
Prefiro contar as coisas, por exemplo, as horas. 
Uma vez enrosquei meu dedo, e fiquei bastante entretido, até ter que cortar o cabelo. 
Boa idéia, quem sabe na próxima vez eu fique me cortando. 
Não acho que isso seja uma boa ideia. 
Boas ideias surgem assim, talvez eu me corte e assim você não demore tanto. 
Não acho que isso vá acontecer. Chego quando tiver que chegar. 
Você vai chegar e eu estarei aqui no meio de uma poça de sangue...
Nesse dia eu não virei. Não quero ver sangue. Afinal, porque você está pensando em se matar?
Não quero me matar. Não quero que você demore. 
Não acho que eu tenha demorado. 
É uma questão de perspectiva. 
Perspectiva é outra coisa. Isso para mim é um fato ... e esta é minha perspectiva.
Acho que você está desconversando do fato de ter demorado. 
Acho que você está desconversando do fato de ter chegado cedo. Por que tanta ansiedade?
Você chega, demora, me contradiz e fala que a culpa é minha ansiedade!
A ansiedade é o mal do século. ansiedade e depressão. Não estou falando de você, estou falando sobre a ansiedade. 
Da minha ansiedade. 
Ansiedade não é sua. Ela quem te tem, não você a ela. Por isso você estava contando a horas. 
Eu conto as horas quando não tenho mais o que fazer a não ser esperar. 
Pois já lhe disse, essa é talvez a forma mais objetiva de certificar-se que o tempo está passando. 
Sem dúvida (com desdém)
De fato. É como uma música.Você poderia cantar uma música de três minutos 20 vezes e passaria uma hora. É outra forma de contar o tempo, talvez mais bonita. 
Certo,voupenssar isso para a próxima vez que vocÊ se atrasar. 
Pense sobre isso na próxima vez que chegar cedo.
Talvez um dia quando você chegar, eu não esteja aqui te esperando. 
Talvez um dia, quando você não estiver me esperando, seja por que chegamos na mesma hora. 
Seria ótimo né, mas acho improvável. 
Podemos sair juntos na próxima vez. Marcamos em outro local, nos encontramos lá e viemos juntos para cá. 
Acho que eu ficaria lhe esperando contando as horas nesse outro local antes de vir. 
Talvez um local mais amigável, um local que você possa se distrair com outras coisas além de contar as horas. 
No parque por exemplo. 
Se você gosta. Para mim não gosto tanto. 
Qual o seu problema com o parque? 
É bobagem. 
Você não vai dizer?
É muito barulhento e certa vez fui assaltado lá, não é a mesma coisa que antes, fico meio tenso ali, também tem muitos pombos. 
Já me assaltaram ali também, sei como é. E aqueles pombos...
Talvez possamos nos encontrar na entrada do meu prédio. 
Seria cômodo para você né?
Sem dúvida, para mim seria perfeito. 
Por que não na entrada do meu prédio?
Fica meio fora de rota para mim. 
Mas se eu quem irei esperar, eu que deveria escolher. 
Ora, se a espera é sua, é porque você chega maiscedo. Talvez você não devesse ter chegado mais cedo. 
Talvez você não devesse ter se atrasado tanto. 
Ainda estamos nisso. Ao menos decidiu já o que comer?
Já comi. 
Interessante, então você achou outras coisas para fazer além de contar as horas. 
Comi antes de vir. 
Talvez fosse melhor deixar para comer aqui. 
Não gosto da comida daqui, tampouco queria gastar. 
Mas o meu dinheiro você pode gastar né? 
Como você gasta o seu dinheiro é um problema seu. 
Como você pretende gastar meu dinheiro?
Jogo, uisque mulheres e o resto desperdiçar. 
Eu vi esse filme. (rindo) Não acaba muito bem (sério)
(pausa)
Isso foi uma ameaça?
Foi um fato. 
De que você está me ameaçando?
Do final não ser muito bom. Ou melhor, não ser feliz.
Que final?
Do filme. 
Você desde que chegou está desconversando. Acho que não estamos nos entendendo muito bem. 
O que você não está entendendo?
Nos entendendo de um modo geral.
Teve algo que eu falei que você não entendeu?
Nos entendendo! Chego uma hora e você outra, vocÊ me agride e depois nega. 
Não estou lhe agredindo (agressivo). 
Isto é um fato! 
Não estou lhe agredindo (agressivo).
Depois de horas dedicadas a contar as horas, levou apenas minutos para você me agredir. 
Porque estamos discutindo? Você começa com essas histórias, quando tudo o que eu queria era comer. 
Pois coma, eu não vou comer. Não tenho estômago para isso. 
Não fique com insinuações. 
Insinuações feito as suas ameaças implícitas: "não acaba muito bem"?
Eu estava falando do filme. Todos morrem no final. 
É isso que você deseja? Me ver numa poça de sangue lhe esperando? É esse o final que você espera?
Eu não quero ver um final desses. Não quero que termine assim. 
Pois eu espero que termine melhor que começou, porque não começou bem. 
Como você espera que termine então?
Diferente. 
Diferente já está. 
Diferente de agora. Com sexo. 
Sexo é uma forma interessante de terminar. Com uma gozada na cara feito os filmes pornográficos. 
Sexo não é pornografia. 
Isso é um fato. 
Parece que você não sabe muito de sexo. 
Só sei o que vi nos filmes pornô. 
Sei que isso não é verdade. 
Tive também duas aulas no primário sobre sexualidade humana. Era quarta série. 
Aposto que isso trouxe muita imaginação. 
Muitas. Nessa época ainda pensava que o homem fazia xixi na mulher. 
Tem alguns que fazem. 
Isso também é um fato. 
Não sei o que leva uma pessoa a isso. 
Tenho sérias dúvidas se é incontinência urinária ou drogas.  
Você está pensando errado. Pode ser que a chuva dourada que leve a pessoa às drogas?
Acho que tenha outros motivos para as pessoas usarem drogas.
Tenho me convencido que o problema é o leite materno. A maioria das pessoas que usam drogas mamaram durante a primeira infância. 
Interessante. Me parece uma tese interessante a ser defendida. 
Tenho outras teorias também. 
Sobre sexo, drogas ou o tempo?
Sexo, drogas e outras coisas. 
Por exemplo?
Você já observou que o último ônibus que chega é sempre o seu?
Isso não me parece uma teoria, senão um problema lógico. Se é o seu, você sobe não espera mais, vai embora. 
Aha. Verdade. (pausa)  Não vou falar mais das minhas outras teorias. 
Ainda bem. 
Você que estava me perguntando sobre elas. 
E me arrependi no mesmo instante. 
Está vendo como é você quem me agride. 
Você não percebe a violência em cada uma de suas palavras. 
Ninguém se percebe violento. Isso é uma outra teoria. 
Não concordo. 
Como não. Se alguém se percebe violento, deixa de ser. 
Não é. E as pessoas que sentem prazer sendo violento ou violentado?
Sem dúvida, mas não quer dizer que ela se perceba violenta. É como se fosse algo inconsciente. 
Em alguns contextos, me parece bem consciente. 
O prazer sim, mas o perceber-se violento, não sei. 
Não acho que você saiba do que está falando. Me parece pura babaquice. 
Isso é um fato. Sem dúvida não sei, mas não concordo. 
Não concorda com o que?
Com o que você falou. 
Qual parte? 
De que eu me atrasei. 













terça-feira, 12 de setembro de 2017

três dias depois do milagre.

Quarta-feira, 13 de setembro de 2016. Três dias depois do milagre. Roberto, pai de família comprometido com o trabalho e dedicado aos filhos e esposa, acordou sentindo-se deprimido. Três dias antes, enquanto estava comendo o jantar seus olhos brilharam, levitou e curou a irmã que estava com câncer, para o espanto de todos, inclusive dele mesmo. Tanta energia e prazer sentidas naquela hora, que a sensação de bem-estar durou os exatos três dias. No terceiro dia, acordou como se estivesse despertando de uma ressaca e sentindo os efeitos da abstinência. Pensava, com tristeza, o quanto de dedicação e amor aos filhos e esposa teria que dedicar para poder sentir aquele conforto em sua alma novamente, passando a amá-los menos a partir de então, ao surgir espontaneamente o maléfico pensamento que se tivesse apenas um filho, seria mais fácil.

terça-feira, 29 de março de 2016

Me pergunto das historias nunca ouvidas. Me pergunto qual o cheiro do carro de boi. Me pergunto como era Palmares em 1929. Como foi a juventude nos Milagres? Como foi sair de casa para servir ao exército? Se sentiu medo, se sentiu só. Se pensava em ir pra guerra. Vô, porque não gosta de comunista? Não sei essa parte. Se gostava mais de geografia ou história? Se tinha uma paixão (não tão) secreta pelas artes plásticas. A cor favorita, azul ou amarelo? Talvez verde. Talvez o carro de boi fedesse, talvez tenha se sentido só, talvez tenha sentido medo, talvez fossem coisas para guardar, para se esquecer, para dormir por uma eternidade. Coisas sem importância, que não teve peso para ser amado. Talvez tenha querido dizer algo que eu não entendi. Só compreendi um boa noite, dorme bem. Aí eu já sabia que não era até amanhã.

sábado, 19 de setembro de 2015

Fui ontem a uma peça ruim. Ingresso caro, programa com amigos e a namorada. O programa foi bom, mas o teatro foi ruim. Nem sempre quando pagamos para ver coisas ruins é um programa que não presta. Costumo olhar as coisas de um modo mais amplo. Ver a peça ruim, com atores ruins, direção equivocada e texto brega, me fez me sentir um artista. Nunca mexi com essas coisas de arte, mas sei que quando se vê algo ruim, o artista frustrado em mim se senta melhor na cadeira, ao dizer, até eu faria melhor. O que é o mesmo que dizer, sou melhor que você, ainda que reconheça que não sou o melhor dos melhores, mas estou na sua frente, para todos os efeitos. Ah, como é boa essa sensação de se sentir realizado naquilo que você nunca quis para você.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

As meninas porcas

Mamãe morreu quando as meninas eram pequenas, mas a mais velha se lembrava bem do laço azul que ela lhe deu. Laço azul celeste para prender o cabelo. No dia do enterro a mais nova não chorou, e a mais velha segurou as tranças para entender o que tinha acontecido. Sempre disseram que papai não ia conseguir cuidar da fazenda só, e criar duas meninas sem nenhuma mulher por perto. Papai criava bicho, porco, galinha, mais porco que galinha. As galinhas ficavam no galinheiro, e os porco no chiqueiro, que era fechado, pra eles não fugirem. As irmãs gostavam de brincar lá, iam, mesmo antes de mamãe morrer, dá comida pros porcos e se sujavam. Faziam pra galinha: ionc-ionc; e pros porcos: cocoricó, pra confundir os bichos. Corriam pra ver quem chegava primeiro, e paravam perto da pedra grande, pra não molestar o pé. Antes de entrar em casa, mamãe jogava um balde de água pra tirar a lama dos pé.

Depois que mamãe morreu, a casa ficou suja, cheia de lama. As criança não comiam bem, e a mais velha tentou cozinhar. O pai tava muito triste, e não brincava mais com as menina, a mais nova subia na sua barriga e ele nem mais ria, só a colocava no chão. Não tinha como cuidar delas, não sabia dar banho, dar de comer, não sabia que horas menina dorme, nem que horas acorda. As menina não podiam trabalhar no roçado, nem fazer nada com os bicho, e papai de vez em quando brigava.

Um dia veio uma mulher com papai. Ela tinha uns lábios vermelhos, falava alto e um sorriso muito grande pro rosto. Papai disse que o nome era Jane, e que ela agora era a mulher dele, e ia cuidar das meninas. Papai podia ir pro roçado, cuidar dos bichos, cuidar dos plantio, que Jane sabia dar de comer, dar banho nas meninas, que horas menina dormia e que horas acorda, porque era mulher também.

Jane tinha um sorriso que virava do avesso quando papai ia embora. As meninas brincavam com os porco, com as galinha, e quando entravam em casa, ela dava era muito nas duas porque sujou a casa de lama. Depois diziam que tavam de castigo e as duas fugiam. A mais velha ficava segurando a fita azul que mamãe lhe deu, enquanto dormia embaixo do cajueiro, escondida de Jane. Quando voltavam, Jane dava era mais, e reclamava com papai. Papai não defendia as meninas, pensava que Jane tava era certa, e que assim que se educava menina. Papai não sabia. As meninas pensavam que papai não se importavam. A mais nova chorava muito e depois de um mês parou fugir quando apanhava. A mais velha ainda fugia, mas apanhava mais.

Um dia Jane bateu com uma galha, e puxou a mais velha pelo cabelo, só porque lhe fez raiva. Tirou a fita azul celeste dela e disse que se ela fugisse, ia cortar a fita toda. A mais velha chorou muito a noite, e se meteu no quarto de papai que dormia com JAne, pra pegar a fita de volta. Quando Jane, que fazia intimidade com papai, viu a menina entrar no quarto, deu um berro, e pulou com toda raiva pra cima da menina. Foi até o quarto com a galha, e meteu nela que acordou a mais nova, e começou a chorar. Jane dizia pra se calar as duas, e que ia dar nela também, mas a mais nova aí que chorava mais. Ela pegou as duas, levou ate o chiqueiro, e disse pra ficar. Depois fechou com cadeado numa corrente bem grossa.
Papai não achou isso certo e mandou Jane tirar as meninas. As meninas ficaram em casa nessa noite.

Tempo depois, papai foi se embora cortar cana em São Paulo e deixou as meninas com Jane. Deu um beijo em cada uma e foi embora. Jane não havia esquecido, e mostrou o laço azul celeste para a mais velha com um sorriso malvado, e cortou todinho na frente dela. Disse que era por conta da malcriação dela. A mais velha correu pra bater em Jane, mas jane era mais forte. Jane pegou as duas, e prendeu de novo no chiqueiro com a corrente de cadeado. As meninas ficaram na lama bem muito tempo quando viram que o sol já tinha ido e tava nascendo. Jane chegou junto e disse que ia tratar elas que nem bicho agora, que fica preso porque não obedece. Jogou a lavagem, e foi se embora. As irmãs só choravam muito. A mais nova deitou a cabeça na barriga duma porca e tentou dormir. A mais velha pegou da lavagem pra comer porque tava com fome.

Se passou bem tempo, e as meninas começaram a se esquecer de falar. Pra pegar a comida, gritavam fazendo como os outros porcos: uirrrrr. Metiam lama na cara, e comiam da lavagem. Não tinham muito o que fazer e começaram a andar de quatro que nem as porcas. A mais velha se esqueceu do laço azul e do nome de Jane. A mais nova, se esqueceu de caminhar primeiro que a mais velha. Logo, os dedos começaram a virar patas, e os dentes ficaram mais fortes pra poder roer tudo. Na hora de comer brigavam muito, e a mais velha engordou muito, porque tinha mais força. A mais nova gostava ainda de mamar da porca que teve filhote e roubava a mama do melhor leite. O nariz foi ficando pontudo, e logo as duas já tinham focinho e eram uma porca inteira.

Jane disse para papai que as duas fugiram quando ele chegou. Mandou Jane embora porque ela não soube cuidar das filhas dele. Papai só viu que tinha mais duas porcas no chiqueiro.



quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Injeção

"Hoje eu vou chorar", dizia com pleno entendimento dos seus sentimentos aos quase dois anos de idade. O carro havia estacionado no posto de saúde, seus pais se surpreenderam com a frase. Não sabia o que era asma, ou tratamento, mas tinha a certeza de que não gostava de injeção. Uma por semana. Normalmente pai e mãe diziam-lhe que não doía, mas hoje ele estava experiente. "Mas porque vai chorar?", perguntou a mãe. Disse desafiadoramente: "Hoje eu vou chorar", convicto de seus ideais. Desceu do carro, e caminhou até metade do caminho de mãos dadas. A mãe tentava demovê-lo. "É só uma picadinha de formiguinha, não dói". Nada falava. Ao chegar perto, via a fila com outras crianças. Algumas brincavam e riam em sua ignorância ou coragem, outras já choravam, saindo da sala maldita, que todos aguardavam entrar. Pobres coitados. Se sentiu apreensivo, e pediu para ficar no colo. A mãe não o recusou, e continuava sua ladainha. Ele estava impossível naquele dia, e não dava atenção, era todo apreensão, atento para que nunca chegasse a sua vez. Ouviu a moça de branco chamar-lhes: "Mãe, é vez de vocês", apontando-lhes o dedo. "É a de asma", ela disse ao entrar na sala. Mãe logo comentou com a outra moça de branco, como quem contava uma anedota: "Ele disse que hoje vai chorar". A médica riu docemente e falou: "Vai nada, esse menino corajoso, é só uma picada de formiguinha". Respondeu: "Dói sim.", dando seriedade a situação. Logo a médica escondia o riso com a máscara branca, e tirava sua agulha de um isopor, com o vidrinho. Puxando o líquido da ampola, pedia que lhe mostrasse o braço. A criança não se recusou, senão ajudando, levantou a camisa com pesar e olhos fixos para os olhos da médica, mostrando sua coragem. Logo, sentia o ferrão do escorpião perfurando sua pele e o veneno gelado e ardido adentrando seu corpo. Deu um grito contido, e derramou duas lágrimas.   Olhou para todos, e logo, voltou o rosto para sua mãe e disse de modo provocador, com a voz cheia de tristeza: "chorei".

sábado, 24 de setembro de 2011

Deus ex machina

Um certo mendigo cego de Colono certa vez me dissera que pudera ele uma só vez voltar ao tempo, converteria seus pecados em milagres, não por deixar de fazê-los, senão para glorificar-se ao fazê-los, pois a única culpa que sente hoje é por sentir-se culpado. Qualquer pecado não tem qualquer peso se o mais grave é aquele cometido contra si mesmo. O cego decrépito, já velho e moribundo se arrependia profundamente de culpabilizar-se por qualquer coisa pouco relevante. Me dizia em voz baixa, como quem revelava um segredo, que se soubesse que o mundo seria capaz de transformar-se no que é hoje, ao ponto de pecar não ter qualquer valor, jamais teria se culpabilizado por qualquer coisa sem importância. Cego era por si mesmo, ou qualquer estupidez de força maior. Deus ex machina, me disse em seu último suspiro.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Dia de preguiça.

Hoje me levantei da cama sem vontade. Senti a preguiça e pensei numa doença. Não queria ir trabalhar. Mas vou. A doença que pensei era muito "cara de mentira". Dor de barriga sempre é mentira, pensariam meus chefes. Não gosto que pensem que sou mentiroso. Tomei meu café da manhã com raiva. Comi queijo, mamão, iogurte, coisas de sempre. Ainda queria passar mal. Enquanto escovava os dentes, pensei em engolir a pasta de dente, e então me sentir mal. Ou ainda, engolir o anti-séptico, todos os dentistas dizem que não devemos engolir. Na embalagem inclusive dizem que não se deve engolir. Meus pais quando criança diziam para eu não engolir. O gosto tão bom, sempre me deu vontade de engolir. Não gosto quando as pessoas dizem o que eu devo fazer. Me lembra meus chefes, me dando coisas para eu fazer, prazos para cumprir, me obriga das demandas dele. Crie, diz ele, entregue, diz ele, anote, diz ele. Sempre tive problemas com autoridade. Na juventude, certa vez, briguei com um guarda. Ou melhor, quis brigar. Nunca cheguei a brigar com ninguém. Eu não consigo partir para ação. Eu quero o que eu não faço. Como o violão. Já quis aprender a tocar, mas nunca soube. Ainda quero. Quando vejo alguém tocando violão, penso, devia ter aprendido quando tive a oportunidade. Na juventude, entrei no conservatório, para violão, eu disse. Me disseram, você primeiro vai aprender flauta. Não gosto de aprender o que eu não quero aprender. Não fui mais. Não sei tocar flauta, só assobio. Mas poucos assobios, mas até que gosto. Tenho vergonha do meu assobio. Assobio baixinho, um som agudo, bem desafinado. De vez em quando meu assobio sai alto, coisa que eu nem controlo. Gosto de me perder no assobio. As vezes, no escritório assobio. Isso incomoda os colegas nos seus cubículos. Gosto de incomodar os outros. Quero que saibam que não gosto deles. Não deles, mas o que eles são para mim. Queria assobiar como um cauboi. Como o Clint. Gosto muito daquela música do filme de Leone. Mas não consigo assobiar. Começo com ela e acabo e acabo com a primavera de Mozart. Não sei como. Não sei nada de Mozart, não sou um erudito. Sei muito pouco de música. Conheço mais de musicas populares que eruditas. Só sei a primavera de Mozart. Gostaria de saber mais. Gostaria também de saber sobre livros. Talvez se eu fosse um erudito tivesse um emprego melhor. Já começo a ouvir a primavera. E mesmo assim tenho de ir trabalhar hoje.

domingo, 5 de junho de 2011

Desencontro

Certo dia encontrei alguém com um rosto familiar,
Curioso, lhe perguntei, "Com licença, nos conhecemos?",
Me respondeu, "Pois não, me chamo, Pedro."
Fiquei sem saber quem era.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Hemorróidas e teoria da conspiração

Em 1954, um caso em especial virou a principal pauta entre os ufologistas do mundo todo: o famoso caso Russell. Contextualizando o episódio, uma nave alienígena teria sido encontrada em pleno deserto americano. Ela seria constituída por um metal dobrável, possuidora de uma propriedade nunca antes vista: após qualquer dobra ou amasso, ele retornaria ao formato original, logo em seguida. Tal nave e seus integrantes foram guardados na famosa área 51, pela CIA, organização que mantém em segredo as evidencias desse episódio e até hoje e nunca levou à público uma confirmação do fato. Contudo, extra-oficialmente, algumas declarações de pessoas diretamente envolvidas merecem atenção, algo que para alguns torna mais plausível acreditar na veracidade do episódio.

O primeiro é o testemunho do criador de gado John Mitchel, primeiro homem a encontrar a nave. Certa noite de agosto daquele ano, ele vira luzes no céu, e ouvira um estrondo muito grande, numa localidade perto de sua casa. John saiu com seu filho, e pode recolher ao longo do caminho, pedaços do metal supra citado. Esse metal veio a público apenas cerca de uma semana após, sendo exibido e filmado pela rede de tv local. Em uma dessas imagens, mostra John Mitchel com um pedaço de martelo, dando batidas fortes, e o metal voltando a sua forma original instantaneamente. A repórter Silvia Perry não contem sua surpresa e admiração, comentando que nunca havia visto algo parecido. Além do metal, o criador de gado fala sobre o que vira também: constituída desse tipo de metal, algo que parecia uma nave, em formato de cone (e não de disco como comumente se escuta dizer). Ela estava com a parte superior lançada cerca de três metros do que parecia ser a parte inferior. Dentro da parte inferior, três assentos ocupados por criaturas nunca antes conhecidas pelo homem: os alienígenas. Contudo, todas as três criaturas pareciam devidamente mortas. 

John Mitchel logo compreendeu do que se tratava aquilo, e arranjou de levar um exemplar para sua, para tirar fotos e chamar seu amigo e vizinho Peter Odonell. Peter trabalhava junto com John em sua fazenda, exercendo o ofício de veterinário. Peter foi acordado à noite com um susto, ouvindo a movimentação intensa em frente a sua casa. Ouvira também o estrondo, contudo não saiu de casa para checar, pensando tratar-se de uma batida de trânsito, ou aviso de tempestade. Apenas com a chegada de John a sua casa, que pode tomar ciência da importância dos barulhos ouvidos anteriormente. Foi na mesa da sua cozinha que o primeiro alienigena, trazido por John e seu filho no teto do carro, fora examinado. Peter usou de seus conhecimentos veterinários para abrir a criatura e conhecer sua anatomia. Em alguns aspectos, segundo o seu testemunho publicado no livro "Autopsia de um alien", o alienigena parecia com um homem. O corpo com dois braços e pernas, aparentemente projetados para um andar bípede, e uma cabeça avantajada, mostrando algo que talvez reflita um enorme desenvolvimento do sistema nervoso. Contudo, o coração, como foi observado mais tarde, se fazia ausente. O que fora encontrado foi um sistema vascular, e todo ele rico de pequenas bombas durante os tratos venosos e arteriais. Tal anatomia seria uma das explicações para as prováveis causas para aquilo que pareciam sinais de hemorroidas. Em um orificio que parecia ser usado para evacuação, havia sérias dilatações, similares a varizes. Não se sabe contudo se tal problema de saúde é pré-viagem interplanetária, ou isso se deu por longas horas de viagem. Contudo, Peter Odonell, posteriormente, em seu livro, considerou a ausência de gravidade, longas horas de viagem sentados não seriam tão problemáticas. 

Hoje se sabe porém que desde as idas do homem para o espaço, a ausência de gravidade acarreta uma série de problemas de saúde para os astronautas. A perda de massa é a mais comum, mais dentre elas, é a dilatação de vasos sanguíneo que destaco. Um dos momentos mais críticos é a entrada na terra, momento o qual se estabelecem uma volta repentina à gravidade terrena, e assim, os vasos antes ddilatados, sofrem uma tensão, originando assim varizes pelo corpo. A velocidade de entrada na atmosfera terrestre, gera uma força contra o assento, que aumenta o peso do astrounata, e assim a tensão nos vasos da parte anterior do corpo. Alguns astronautas, que já sofriam de hemorróidas anteriormente, relataram a piora do quadro após a viagem espacial, pulando do Grau I, para o Grau III ou IV. Sendo assim,  especula-se que os aliens encontrados na nave tenham sofrido de algo parecido, contudo, os tecidos aparentemente mais frágeis que os dos humanos, possam ter colapsado a vida destes seres. É possível então suspeitar que essas varizes pelo corpo tenham sido sua principal causa mortis.

Peter passou cerca de sete dias com o corpo em casa, em segredo, na mesa de sua cozinha. Além de John e sua família, apenas Mildred Odonell, sua esposa, sabiam. A reportagem para a TV local realizou suas filmagens apenas na área da queda, e foram chamados pelo próprio John Mitchel. Contudo, os corpos dos aliens já não mais estavam lá. Além daquele que estava na casa de Peter Odonell, os demais já haveriam sido levados pela CIA no dia seguinte. Apenas com a reportagem que a organização ficou sabendo que tal evento houvera sido conhecido por civis, e eresolveram visitar  criador de gado e seu vizinho. Levaram então o corpo e as amostras de metais recolhidas. É importante colocar aí a certa mitologia que se criou em volta desde então, ainda que hoje não haja prova material exposta ao grande público. Quando as autoridades irão se pronunciar? Ou as autoridades americanas estão velando algum segredo maior para a proteão de todos nós? Ou então, nada disso jamais aconteceu? Só nos restas teorias várias.