Muitos anos depois, quando a doença já havia destruído suas memórias mais recentes, e não reconhecia com facilidade seus parentes, chorou no quarto a noite, sentindo saudade da infância, dos seus pais, de seus irmãos e de seu filho morto. Lembrou-se dele, e misturando as memórias, situou-o na mesma época de menino, quando costumava roubar doce no fiteiro, na esquina da rua de sua casa em Bairro Novo. Nesta época, de tão baixo que era, não conseguiam vê-lo através do balcão enquanto metia a mão puxando a prmeira coisa que agarrasse. Depois, disparatava na carreira, enquanto sua única preocupação era não levar tabefe de guarda ou que sua mãe descobrisse, coisa que sempre acontecia. Vez ou outra, seu filho costumava tá ali junto, se recordava, correndo com ele, dava lição ainda: "pai, você não devia fazer isso. Você também não devia comer tanto doce", e no quarto escuro, ocm lágriams entre as rugas, respondia: "eu sei, é errado, mas é que eu gosto tanto de doce". Quando chegava em casa, mãe perguntava logo onde ele arranjou dinheiro pra comprar doce, e dizia, "foi meu menino", e Jõao sempre enconbria, "é fui eu vó". Mãe não reclamava com o neto, dizia que tinha era que mimá-lo, e iam jogar bola os dois. Não se lembrava bem se tinha sido no último natal ou no aniversário do seu menino que ele deu aquela bola para ele, mas já estava gasta, e decidiu-se que fazia tempo suficiente, e que jogavam com ela a bastante tempo. João reclamava vez ou outra, "quero uma nova pai", e ele dizia, "so no seu aniversario pq eu nao tenho dinheiro, ou você pede pra mãe, ou espera eu crescer pra eu trabalhar e poder brincar", e João ficava com raiva, e fazia manha, e diminuia de tamanho. Ficou tão pequeno que desaprendeu a andar, teve que colocar fralda, e joão não falava mais nada. Anos depois, ali na escuridão ele chorou de novo, quando viu ma parede branca do quarto, o som da tv atravessando a sala junto à voz de sua senhora. Era Lalá quem trocava as fraldas de João, e nessa época ele só sabia jogar bola, e roubar doce. Quando se metia ele e seus irmãos, a correr, ou sair coletando jornal velho pra ter dinheiro, e inteirar a feria de casa, lalá ficava com mãe. Brigavam muito entre si, e depois brigavam com ele, e diziam que ele não era um bom pai, e aí ele pegava o dinheiro da feira e comprava a bola pra João, e íam brincar. Depois na rua, sempre na rua, diziam pra ter cuidado com os moleques, e depois diziam que os moleques eram eles mesmos, os dois, joão e seu pai, soltando fogos de artifício nas caixaas de correio da rua, mijando nos muros dos vizinhos que eram inimigos de vô, sempre correndo. Quando viam juntos, brincando pai e filho, quem gostava de vô, dizia, "que felicidade ver esses dois juntos, eles são inseparáveis. é tão bonito ver pai e filho tão amigos." Mas vez ou outra também diziam diferente: "Com esses dois, as ruas ficam impossíveis! Ainda mais com um pai desse!". Ele não se importava, não sabia que era pai, mas sabia que João era o filho dele. Quando falavam mais duro, diziam que ele tinha que ter mais responsabilidade, principalmente vó, que tinha que trabalhar, e ele replicava, "mas eu sou só uma criança", e tudo então fazia sentido. João não devia tá ali, ele tinha que ir emobra. "é pai, meu lugar não é aqui", concordava João com Lalá, que dizia, "ele tem que ir embora". Chorou muito, porque ele gostava muito de João, e não queria se separar dele de novo, e gritou, "me devolvam meu filho!", que da sala, se escutou o grito. E então ele tava roubando doce de novo no fiteiro, correndo ao lado de João, mas dessa vez não entraram em casa, passaram direto. Continuaram correndo. Ele tinha que algo a dizer, mas não sabia o que era. João pedia um pedaço de doce. "Já começo a gostar desse doce. Tenho uma idéia.", diza João com a boca cheia de goiabada, "Eu posso ser seu irmão, ao invés de seu filho, e aí vó cuida de mim e lalá vai embora." E ele gostava da idéia, mas sabia que não tinha como deixar de ser pai e filho. Ele apagou o sorriso, e falou, "mas você vai deixar de ser meu filho.". E ficou com medo de que não fossem mais ser tão amigos como eram, que fosse acontecer alguma coisa, que o elo pai e filho se quebrasse. Falou então: "É melhor tu ser meu pai e eu teu filho, que faço birra e não vou embora", e João ficou pensativo. Era muita responsabilidade, e ele também era pequeno, não queria ter que mandar no proprio pai. Ficaram os dois matutando enquanto a goibada era comida por eles e pelas formigas. João então falou, "não tem como, eu vou ter que ir embora." Ele ficou triste, queria João ali. "E como você vai embora?", "Eu vou morrer", respondeu. Sentiu muito medo, e pensou, que João já tava morto, as formigas também tavam comendo ele e gritou muito forte.
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