sexta-feira, 16 de outubro de 2009

tout le monde sont bricoleur!

Do que eu me acuso? TOUT LE MONDE SONT BRICOLEUR!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Você sabe que é plágio. Não vim aqui lhe acusar, mas você sabe de quem foi a idéia. Eu lhe contei, e você não teve coragem de mudar uma só palavra, acrescentou algumas claro, nas lacunas, onde estava incompleto, mas sabe que eram minhas. As lacunas também eram minhas. Não vim lhe ameaçar, mas você sabe que esse é o meu jeito de sobreviver nesse universo, chamado planeta terra. É impressionante o que você fez, acho que nunca veria escrito as minhas palavras, e para a minha surpresa, esse plágio agenciou minha desnessecidade com a sua inescrupolosidade. Além de gordura, você precisa emagrecer, precisa de mais lacunas. Eu tenho todas elas, e dentre elas é o meu texto que você escreveu. Essa é a minha arte, é a minha cultura. Você sabe que não deveria ter feito isso, você sabe o quão gordo e fedido você é. Você sabe de muita coisa, e é essa consciência que servirá de ameaça. Eu não vou cobrar nada. Mas você sabe a origem de tudo, e espero a sua culpa ardente. Eu só vim apontar a ferida, mas você já enfiou o dedo, porque você sentiu a dor a muito tempo, antes de pegar minhas palavras e encher com a sua gordura. Quando teve a idéia, e começou a cuspi-las, ouvia e cuspia, uma palavra para cada gota de saliva, mas ainda, no final temos mais saliva, tínhamos uma poça, e você escorregou nela só, nem precisou de um empurrão e por isso eu não vim lhe ameaçar. Por que você não aguenta a culpa, você não aguenta a ferida aberta, e se fosse mais magro, já estava de pé. Eu não vou te dar uma mão sequer - nem para acusar e denunciar. Você sabe que é plagio. E você sabe também porque nunca escrevi. Perversão amigo, perversão. É isso que diferencia escritores de plágio: perversão. Porque diferente de você eu não tenho culpa. Não tenho barganha, e por isso você não é um escritor, você plagia. Você sabe que é plágio. Você tomou para si, e digo então: engula-as e Bom Proveito!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O desaparecista

-Doutor, nessa ultima semana tenho sentido algo estranho, sinto como se eu estivesse, não sei, desaparecendo, de maneira cada vez mais gradual. Acho que de maneira geral, isso já vem acontecendo há um tempo, mais só tenho percebido como algo mais recente, algo mais novo, digo a consciência disso, sei que você trabalha com o inconsciente, e não sei se isso é tão inconsciente, acho que hoje tem sido cada vez mais claro essa certeza. Hoje eu sei o que está acontecendo comigo, sinto como todo esse período de análise que vinha fazendo só me ajudou para que eu confirmasse isso: que estou desaparecendo. Nunca antes tudo me pareceu tão claro, não sei se tem algo haver com minha mãe demorar muito para me amamentar, as vezes eu chorava muito para que ela fosse me amamentar, não sei se tem haver, porque, segundo ela, ela dizia que eu que demorava muito para chorar, e aí ela ia dormir...
-Mas o que faz você ter certeza hoje?
-O que faz eu ter certeza hoje? Na verdade não sei se tenho tanta certeza, acho que eu comecei a sentir isso quando estava no ônibus, indo trabalhar. Isso já faz tempo, não foi essa semana, essa semana não aconteceu muita coisas, nem fui trabalhar, mas acho que só essa semana eu comecei a entender de alguma forma o que vinha acontecendo. Sabe, já fazia algum tempo que vinha percebendo algumas coisas estranhas, mas não eram totalmente estranhas, pois já algum tempo que eu comecei a ficar habituado com elas, mas não totalmente confortável com elas, digo com essas situações. Acho que me lembro, como falei antes, quando estava no ônibus certa vez indo para o trabalho, de manhã cedo, subiu uma senhora, não muito idosa para estar na parte dos idosos, mas velha o suficiente para pagar a passagem, e o ônibus não estava vazio, sabe, ainda tinham alguns lugares vazios, mas menos que a metade. Enfim, o que acontece é que ela veio se dirigindo na minha direção, eu estava sentado no corredor, como comumente faço, apesar de que tinha outra pessoa na janela, pois não queria ficar no sol, e na hora que saio, so tem lugar no sol, ou então no corredor; mas a senhora veio se aproximando, andando bastante decidida, ao menos parecia, não me pareceu suspeitar do lugar que ia sentar, ate chegar tão perto, mas tão perto, que sentou em cima de mim. Eu me levantei e falei, “minha senhora!”, e alguns que olharam, ficaram achando meio estranho sem entender, tanto quanto eu, E a senhora mais ainda, envergonhada, o que me fez parecer que tanto quanto eu, estava surpresa, pediu desculpas, e disse “Desculpe meu filho, eu não te vi aí”. Eu em pé já, falei, tudo bem, e então ela sentou no lugar que eu estava, e os curiosos voltaram a olhar pros outros lugares que estavam antes dessa confusão, que não foi bem uma confusão. Em segundos eu já não tinha mais platéia, nem lugar, já que a tal velha sentou no meu. Mas não foi só isso, se fosse só isso eu acho que estaria bem. Tem também os encontrões na rua. As pessoas simplesmente esbarram muito em mim, e depois escuto o que a velha me disse: Desculpe, eu não te vi aí. Sempre escutava, desculpa, quando não era eu que me desculpava. Mais no começo eu ouvia desculpa, depois eu passei a dar mais desculpas, e hoje em dia nem escuto mais nada, só uma cara assustada, quando não zangada, quando nem nada. Acho que a última é a mais atual, total indiferença. Mas por muito tempo achei que fosse pressa dessa cidade que ta ficando cada vez mais caótica, hoje em dia você não consegue chegar no Derby de ônibus às 7:30 sem perder pelo menos uns 40 minutos na Agamenon. E por isso todo mundo corria, mas se fossem só esses dois eventos separados, sabe? Digo, os vários esbarrões, acho que isso acontece com todo mundo, levamos muito esbarrões, e nem temos tempo pra falar, pra ouvir ou dizer desculpa. Eu ficava imaginando se um dia eu iria esbarrar na minha mulher por exemplo, e se ela passaria direto. O engraçado: que triste a minha fantasia, nem muito precisei esperar pra que meu desejo acontecesse, e não ouvisse nada, nem desculpa. Sabe né que eu a conheci num esbarrão. Parece até um clichê, mas é verdade. Já te contei isso.
-Hum...
-Pois é, talvez por isso minha fantasia de esbarrar de novo com ela na rua. Não sei reviver os tempos da juventude, seria bom talvez. Mas só tive a indiferença habitual, assim como todos. Acho que isso também, digo, os eventos mais familiares também me ajudaram a entender o que está acontecendo comigo. Minha mulher, no começo, quando eu chegava em casa, ela se levantava, vinha até a porta, me beijava, e quando geralmente, terminávamos transando. Claro que hoje não precisaríamos transar toda vez que eu chegasse em casas, acho que que isso já faz tempo, e isso já desapareceu da minha vida, digo o sexo. Mas aos poucos foi diminuindo, tudo, não transávamos todo dia quando chegava, apenas se levantar e o beijo mais demorado, pra então beijos mais rápido, pra então beijos na bochecha, pra então um abraço, pra então, um não se levantar e me chamar pra chegar perto e eu beijar a sua testa, pra então nem olhar, e só olhar quando eu chamar o nome dela, pra então nem olhar depois deu chamá-la: “Neusa, cheguei.”, e só depois de eu ligar a luz. Não sei se deveria ir a um médico ou a um psicanalista, talvez um médico fosse mais indicado. Não vou mentir pra você doutor. Eu fui num médico. Quando comecei a dizer que estava desaparecendo, ele mandou eu vir ao meu psicanalista (eu tinha dito a ele que fazia análise já) e me deu esse remédio. Mas não tomei. Doutor, acredite em mim, estou desaparecendo. Ele não deixou eu fazer nenhum exame! E se for alguma doença auto-imune, alguma infecção vinda do espaço? Sei lá, isso hoje parece tão comum, tudo vem do espaço, quando não é da China, ondas de rádio, ondas de celular, ondas ondas. Uma síndrome desconhecida, já que todos os pacientes desapareceram antes de registrarem? Eu posso estar morrendo e ele me dá um anti psicótico! Que merda! Eu fico angustiado, acho que não estou sendo levado a sério, eu tenho evidências! Uma série delas, acho que nessa semana eu pude pensar nelas. Me lembro bem de uma, na fila do fast food, no Shopping, a garota: “Próximo!”, e eu vou, e a menina grita de novo: “Próximo!”, e então eu tenho que chamar a atenção dela, Minha filha, eu to aqui!, eu não disse assim, disse algo do tipo, “aqui...”, ela olhou, pois não senhor, e eu fiz meu pedido, Nº6, e ela, pois não Senhor, pronto para pedir?, Eu sim, nº6, e ela fica parada me encarando, e fala, pois não senhor pronto para pedir?, e eu falo, Sim! Já lhe disse!, Desculpe senhor, eu não entendi o pedido, O Nº6!. Ela então registrou o nº 3. Comi, já tinha pago. Mas não é só isso, me lembro na escola, há muito tempo, as vezes o professor perguntava alguma duvida, e eu levantava o braço, mas ele nunca via, ate eu desistir de levantar o braço, e ficar com minha duvida. Ate hoje eu não entendi o porque que a família real portuguesa voltou para Portugal, ou então produtos notáveis, ou quem foi Felipe Camarão. Acho que já é muito antigo, desde a infância os sintomas vem aparecendo, olhe aí. Por isso pensei numa síndrome. Isso também tem acontecido no meu trabalho, imagine que em reunião eu não consigo mais dar opiniões, por que ninguém escuta, como na fila do fasfood, as pessoas não me escutam, ou não me vêem levantando a mão para pedir a vez para falar. Eu passei com o tempo a mandar opiniões por e-mail. Eu nunca faltei uma reunião, ou mesmo um dia de trabalho, e por vezes já recebi descontos no salário, tido como débitos por ter faltado alguns dias. Isso até me lembra uma piada, mas eu não vou contar, eu não sou bom em contar piadas. Na verdade nem é tão boa, acho que me lembrar uma piada só por eu querer que fosse uma piada isso tudo, mas não, isso tem acontecido mesmo, e por muito tempo eu tenho achado natural sabe? Assim como eu tive que me acostumar com o sono pesado da minha mãe, ou tive que ficar no ônibus em pé, ou esbarrar calado em todas as pessoas nas ruas ou ficar calado a maior parte do tempo em todos os outros lugares. Eu não acho isso necessariamente bom, acho que faz algumas semanas que isso veio realmente me preocupar, digo começar, porque saber o que esta acontecendo comigo foi apenas essa semana, mas me preocupar e achar que algo estava acontecendo, já faz algumas, talvez meses. Vou dizer quando: foi quando minha mulher, na época que ela ainda abraçava, antes de não se levantar, um dia me abraçou, quando cheguei e com o nariz no meu cangote, falou: Estranho. Eu: hum? , ela, estranho, funcfunc, não consigo, funcfunc, e fungava mais partes do corpo, meu cabelo, meu suvaco, e eu, que foi amor?, não consigo... achar... Você... você ta sem cheiro! E eu? Hum?, e tentei me cheirar, tentei mesmo, fui no espelho, no banheiro, tomei um banho, gastei quase um sabão inteiro, e depois que sair do banheiro, não conseguia cheirar a nada, estava realmente sem cheiro, não cheirava a nada, eu não exalava nenhum fedor, nem nenhum cheiro bom, eu cheirava simplesmente a nada. Mas isso perdurou, colocava perfume e nada. Seguiu por vários dias, o cheiro do perfume ficava só no cômodo em que eu colocava, e não em mim. Eu passei a colocar perfume nos cômodos que eu chegava, mas eu não recebo tanto, e passei a usar perfumes baratos, acho que fiz isso aqui também, eu confesso, fiz sim na semana passada, na recepção e aqui, mas o senhor não viu, acho que estava no telefone na hora, assim que eu cheguei. A minha crise, digo, minha grande crise, começou na semana passada, quando eu já sem dinheiro, afinal, final do mês e com descontos no salário, teve pouco salário pra muito mês, e ainda uma semana antes de receber, meu perfume acabou, e eu não tinha como comprar um. Sem esse perfume, eu consegui descobri o que vinha acontecendo comigo. Percebi que as pessoas no trabalho não falavam comigo, elas me ignoravam completamente, menos quando por e-mail ou apenas interagiam comigo quando eu sem querer derrubava alguma coisa, um grampeador ou um celular, e eles pegavam e tínhamos conversas curtas, dessas que a gente nem escuta o que o outro fala, tipo, deixa que eu pego, ta bom, brigado, desculpa, e quando chegava em casa, minha esposa sentada vendo TV sem nem perceber que eu cheguei. Só percebia quando eu acendia a luz da sala, e ela falava, “amor é você?” Na sexta passada que eu cheguei, eu não liguei a luz. Fui para a cozinha diretamente, comi só, e fui dormi. Ela nem estranhou, nem falou, e acho que eu passei a entender, que o que acontecia era que na verdade eu estava desaparecendo. Acho que foi nessa noite, eu não consegui dormi quase, que eu consegui listar essa série de acontecimentos. E não estou desaparecendo só fisicamente, mas as pessoas também começam a esquecer a minha existência. Certo dia liguei para minha mãe, ela ta bem senil, mas ao falar mãe, sou eu, ela, quem? Minha esposa só lembra de mim porque eu interagi com ela através do interruptor. Ou os colegas de trabalho quando nos correspondemos por e-mail apenas. As pessoas não pedem mas desculpa por que eu sou incapaz de interagir com elas diretamente, e de tão irrelevante que tem se tornado meu peso, não existe nenhum choque para elas ou nem memória de qualquer esbarrão. Eu não quis isso, mas eu não tinha no que me agarrar, ou como, acho que ainda não quero, eu não quero tomar um anti-psicótico, eu fiquei com muito medo, sei que não estou doido Doutor, virei os espelhos lá de casa ao contrario, tava com medo de um dia me olhar e não me ver, mas depois desvirei, talvez eu esteja começando a aceitar não sei, essa semana não fui para o trabalho, nenhum dia, acho que não dá mais para ir, é como as coisas para mim também estivessem começando a desaparecer. Outro dia tropecei numa pedra que não tinha visto, foi essa semana, e depois eu me esqueci que tinha topado nela, e foi só isso, agora eu lembrei, mas não fiquei me lembrando que tinha uma pedra no meu caminho, eu não me lembro de muita coisa. Nessa mesma hora tentei me lembrar de tudo que eu não lembrava, de tudo que eu tinha esquecido, mas não dá, eu trouxe algumas coisas, acho que hoje eu falei mesmo da minha mãe, acho que me lembro do que ela se lembra, mas eu queria lembrar do que eu vi como era, mas não consegui. Eu acho que comecei a entender. Eu tinha medo de que não me vissem, e ainda tenho medo. Acho que minha percepção tem diferenciado enquanto a isso, acho que isso tudo só tem uma maneira favorável para mim de acabar ...

Ele escuta um barulho no chão e vê uma caneta rolando até ir para embaixo do divã. Senta-se, e olha para trás, percebendo então que seu psicanalsita estava dormindo, já em sono profundo. Levanta-se, pega um cobertor, cobre-o carinhosamente, e fala, Adeus Doutor. Sai, apagando a luz antes. Diz um adeus para a secretária na recepção a qual parecia muito ocupada para responder, dando a impressão de nem ter escutado. Sai pela porta da frente e desse a ladeira em direção a sua casa. Olha para a própria mão e vê que ela começa a desaparecer. Pensa com felicidade: “Finalmente”, e desaparece para si mesmo antes de chegar na esquina.